Gargas Tropical

sábado, julho 30, 2005

Nova Cara

Finalmente uma nova cara para o Blog, depois de uma "luta" para perceber como se programa esta coisa...
Acho que ainda tem algumas falhas, mas primeiro tenho que saber como as resolver, o que vai demorar algum tempo.
De qualquer modo, digam qualquer coisa se estiver a funcionar mal para eu poder tentar corrigir (qual o erro e o browser utilizado, incluindo a versão do dito...)

quarta-feira, julho 27, 2005

INVADERS!!

Era inevitável....

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juntei-me aos Invaders :)

Já falei de Steelbands noutro post.
Fazem música com bidões de gasolina. Cortam-nos com vários tamanhos e martelam-nos até que cada zona produza uma nota diferente. Consoante o tamanho podem ser mais agudos ou graves e ganham os nomes dos instrumentos de uma orquestra. Violinos, guitarras, baixos, etc...

Escolhi a guitarra - porque será.... :)

Uma steelband funciona de modo idêntico às escolas de samba. Qualquer pessoa pode entrar, só tendo que aparecer regularmente para os ensaios que geralmente têm cerca de vinte pessoas (excepto os ensaios para o Carnaval que chegam a ter oitenta a cem músicos). Individualmente um "pan" pode ter um som muito doce e melodioso (violinos), ou denso e quase desafinado (baixos). Mas é quando todos tocam juntos que uma steelband impressiona. A sensação de orquestra é quase avassaladora, com a "potência" que todos os instrumentos produzem. Ao contrário de uma escola de Samba (apenas percussão) , os "pan" fazem realmente música, e em conjunto lembram o som de vários orgãos de igreja a tocar em simultâneo, no limiar do som puro para a distorção, aquele ponto, em que estando no limite, os instrumentos se revelam com toda a intensidade.
Lembro-me bem de quando ouvi a primeira banda. Foi no dia da minha chegada. Tinha 15 horas de viagem em cima, estava esgotado, e era sábado de carnaval, dia de apresentação das bandas.
Ouvi uma tocar, ao fundo, e sem preceber o que se estava a passar pensei... mais uma banda com orgãos... o som era longínquo e a desilusão enorme. Quando vinha embora a próxima banda, que se preparava para entrar em palco e estava naquele momento a um metro de distância, iniciou um ensaio final. Fiquei estarrecido, e com a pele toda arrepiada. Nunca tinha ouvido nada como aquilo... O som crescia a cada nota num ritmo vertiginoso

Os invanders ensaiam a 50m da minha casa, e de vez em quando assisto aos ensaios, enquanto decido dentro de mim o que fazer. Alguns dias atrás ganhei "coragem" e falei com o "capitão" da banda. Imediatamente me disseram que podia tocar, que só tinha que aparecer regularmente e que eles me ensinavam :)

A semana passada fui então pela primeira vez tocar com os Invaders. Quer dizer... sobretudo olhar, porque neste momento ainda nem sequer sei que nota dá cada zona do pan... mas lá fui tentando copiar os movimentos dos outros.. e até já sei uma música :)

Gostei sobretudo do modo como a banda aprende uma música nova. São poucas as pessoas em Trinidad que sabem ler uma partitura. Na Terça-feira foi então um senhor (não me recordo o nome) entregar uma nova música aos Invaders. E foi impressionante ver 20 pessoas a aprender uma música de dez minutos numa noite... na quarta-feira já a tocávamos, completa e sem falhas!!!
Com um Discman nos ouvidos e sentado numa cadeira ia dizendo as notas e os tempos a cada instrumento, frase a frase. E depois ia juntando novos instrumentos ao conjunto, a um ritmo alucinante.
Quando terminou de ensinar, e tendo ouvido apenas uma vez a banda toda, levantou-se, despediu-se, e desapareceu... Ficámos a ensaiar durante o resto da noite a música nova, e saí a pensar: "amanhã já não sei nada disto outra vez... espero que alguém se lembre"
Surpresa minha... todos a sabiam de cor, e ensinavam-na de novo aqueles que não apareceram na noite anterior...

Na quinta-feira houve concerto no Savannah Park como parte do programa das comemorações do "Emancipation Day"...

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O dennis foi embora

Ontem o Dennis foi-se embora.
Não foi uma partida planeada... a empresa decidiu-o apenas há 2 meses, quando se pensava que afinal não ia agora.
O Dennis (julgo que nunca escrevi sobre ele...) é Belga, e esteve em Trinidad o último ano e meio. Tornou-se grande amigo da Leen e do jannes, e foi através deles que o conheci e à namorada, a Abdelys que é da Venezuela.
Esteve cá a trabalhar na construção de uma refinaria de Petróleo. O projecto terminou e a companhia enviou-o agora para a Alemanha para receber formação, e em seguida irá para Omã, para novo projecto.
O último fim-de-semana foi bastante intenso. Na sexta tivemos uma festa em casa dele que se prolongou pela noite dentro e acabou na piscina... :)
Foi a festa de despedida dos colegas de trabalho e amigos que aqui conheceu e teve um sabor estranho...
Depois foi o sábado, em que fizémos finalmente o jantar de inauguração da minha casa (após diversos meses de atraso....), e no Domingo acabámos todos na praia. O dia estava terrível, com chuva contínua o dia todo, mas ninguém se atreveu a não aparecer, visto que era o sítio onde o Dennis queria passar o último Domingo. Valeu-nos uma das cabanas/abrigo que estão na praia, e o Bake & Shark, que como de costume está sempre uma maravilha.
À noite jantámos no novo apartamento da Abdelys, que teve que se mudar para uma casa mais pequena.

Foi um fim-de-semana estranho, em que parecia haver a necessidade de manter todos juntos o máximo de tempo possível, quase que tentando evitar o inevitável.
Alguma tensão também no ar, embora se falasse abertamente da partida. Lembro-me da angústia nos olhos da Abdelys, e no afastamento que intencionalmente iam tentando criar, mas sem nunca o levarem em frente. O Dennis parte, a Abdelys fica...

Conheçi-o mal. Fui percebendo quem era o Dennis nestes últimos dias. Tornou-se parte deste grupo de amigos e vê-lo partir lembra-me também muito do que fiz. Lembro-me da minha saída de Portugal, de todas as escolhas e opções que tive que fazer. De tudo o que ficou para trás, e do que possivelmente se perdeu (porque julgo, há coisas que nunca se perdem, mas outras que a distância e o tempo matam inevitavelmente...)
Sobretudo pensei também no dia em que deixarei Trinidad. Não será agora ainda, mas sem dúvida virá o dia. Pensei em tudo o que deixarei cá... Amigos, que conheço e que virei a conhecer, experiências, vida...

Vou descobrindo que começo a fazer parte deste sítio. E talvez por isso me assuste. Já passaram mais de cinco meses, e o sentimento de estar a fazer turismo num país estrangeiro vai-se esvanecendo. A surpresa dos primeiros tempos em Trinidad (inesquecível) vai dando lugar a um quotidiano a que me adapto. E dele fazem parte pessoas que se tornam aqui na minha vida. São a minha "família" e amigos de Trinidad.
Já não me sinto deslocado. Apesar de estrangeiro (sê-lo-ei sempre enquanto aqui estiver) vou aprenendo a adaptar-me. A realidade de Trinidad é cada vez mais presente na minha memória. É onde estou.

Desta vez não fui eu que parti. Foi um amigo, e pude então sentir a experiência de ver alguêm ir embora. Claro que conheci muita gente que foi para o estrangeiro, mas quando se está em Portugal o sentimento é diferente... Sabemos que um dia voltarão...
Desta vez não tenho respostas, e estando num país que não é o nosso, todos os amigos acabam por ser poucos e demasiado importantes.
Entretanto vamos imaginando-o a andar de camelo no deserto para chegar às instalações da próxima refinaria :)

quinta-feira, julho 14, 2005

Semana de sustos...

Há semanas em que pouca coisa acontece, e outras em que tudo é demais, e mau...

Na segunda-feira rebentou uma bomba em Port of Spain. Não foi longe de onde trabalho, talvez 5min a andar a pé. A explosão foi na Downtown, e, como em todas estas situações, colocada de modo a magoar (matar?...) o maior número de pessoas...
Não morreu ninguém. Talvez por ter sido cedo. Não quero imaginar se tivesse sido à hora de almoço, quando toda a gente sai e enche as ruas numa corrida frenética. Mas houve feridos, alguns graves.

Não sei bem descrever o que senti quando soube da notícia. Estávamos no atelier, e tudo soava a surreal. Em Trinidad não há bombas. Mas desta vez houve...
O modo como as notícias são dadas também não ajuda muito. Há uma tendência terrível no jornalismo em Trinidad de exagerar os motivos e as consequências, ao ponto de a nós, europeus, quase se tornarem caricatas.
Falou-se de terrorismo internacional, até da Al-qaeda. Nas rádios disseram mesmo que poderia ser a consequência do sucedido em Londres...
Custa-me seguir aqui as notícias, pela leviandade com que são dadas, pelo detalhe mórbido que apresentam... (no dia seguinte a capa do jornal era um grande plano de uma senhora que perdeu a perna, e no interior vinham escritos os nomes e moradas das vítimas - com número da porta e tudo)

Foi uma bomba dita "artesanal". Não há motivo para ter sucedido, não se encontra uma justificação (alguma vez há?....). O certo é que alguém a colocou...
As pessoas entraram em pânico. Quando fui ao supermercado ao fim da tarde (sempre cheio aquela hora), encontreio-o vazio, e quase todas as lojas do centro comercial estavam fechadas. Toda a gente fugiu para fora da cidade numa loucura colectiva de quem aguarda um novo atentado, inevitável e de dimensões excepcionais...

No dia seguinte, como seria previsível, este era o único assunto... Mas para meu "horror" descubro que apesar do medo, as pessoas lêem com sofreguidão estas notícias, e surpreendem-se quando comento as moradas nos jornais. Acham natural. "Gostam" mesmo de ver as imagens, de seguir todos os detalhes. Quase que se sente nas pessoas um misto de alívio por um lado, e "desgosto" por outro, por ter sido "apenas" uma bomba artesanal...

Apesar do medo, do pânico, parece que sentem necessidade de ter um grande acontecimento, e quanto maiores as consequências, melhor é a notícia...

Ontem o susto foi diferente, e começou às 11h00 com o anúncio da chegada eminente de um furacão... O "Emily" (gosto do nome) desceu de mais, e passou muito próximo de Tobago. Foi lançado um alerta a nível internacional que incluía Trinidad, mas que felizmente a meio do dia desceu para perigo de tempestade tropical. Com a frase "People, go home", o primeiro-ministro acabou por nos dar uma tarde de folga. Foi apenas o tempo de preparar o atelier para o pior... embrulhar computadores em plástico, proteger papéis, etc... não fosse entrar água pelo telhado, e seguir para casa. Saí às 12h00 e demorei 1h30 para fazer 2km... O trânsito era o caos.
As pessoas corriam aos supermercados na busca de alimentos para a semana toda, na rádio alertava-se para o perigo das cheias e possíveis cortes de água e electricidade. Pediam-nos que rezássemos a Deus, qualquer que fosse o nome que lhe déssemos.
Duas horas depois a cidade era um deserto, parecia fantasma. Ouvia-se apenas o som dos pássaros e dos cães, e uma calmia estranha ensombrada por nuvens negras que se moviam devagar e enchiam todo o espaço do céu.

Não houve furacão... Acabou por perder a força no Atlântico (Trinidad quase nunca tem furacões, apesar de estar habituado a tempestades com alguma violência).
Houve uma tempestade que começou, de repente, às 21h00 e que durou até às 6h00, com tal intensidade que o barulho do telhado me impediu de dormir.

Hoje as ruas estavam desertas. Poucos foram os que sairam de casa para trabalhar, num modo de pensar que se assemelha um pouco ao "se não aconteceu ontem, pode acontecer hoje... e portanto não arrisco...". O lixo espalhado nas ruas , arrastado pelas águas era imenso obrigando mesmo os carros a contornar "obstáculos". Mas não havia trânsito...

Alívio? sim... Mas fale-se com um trini, e percebe-se a desilusão de não ter havido um furacão a sério...

sábado, julho 09, 2005

A minha árvore

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Tenho uma goiabeira. É minha.
Pela primeira vez tenho uma árvore, enorme.
Tenho uma goiabeira que dá goiabas. Muitas.

De manhã passo por ela e estico os braços. Escolho três ou quatro frutos que guardo para comer durante o dia. Nunca tinha visto goiabas. São pequenas. Pelo menos assim o são as minhas. Quando amadurecem ficam amarelas, de um tom muito vivo. A casca é espessa, como nas tangerinas, mas muito macia e lisa.
Por dentro são de um rosa quase vermelho, muito sumarentas e doces. têm muitos "grãos" como os maracujás.
O cheiro da goiaba entra pela minha casa diariamente. Sinto-o assim que páro o carro. É parecido com o do Maracujá, intenso.
A minha goiabeira é também de muitos outros... Pássaros que fizeram dela casa e que cantam constantemente. Comem-me as goiabas mais altas. Tenho que me contentar com aquelas às quais consigo chegar. Passeiam-se entre os ramos e o telhado. Às vezes oiço-os a saltar na chapa ondulada, onde fazem "corridas".
São muitos, e de diferentes tipos. Alguns completamente pretos com um olho amarelo, outros muito azuis. Há também alguns castanhos e de peito amarelo.
A minha árvore está com uns ramos enormes que quase me entram pela janela. Ás vezes os pássaros empoleiram-se nesse ramo e espreitam cá para dentro, mas nunca arriscam entrar... Mantém-se sempre curiosos, mas longe...

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...

Não escrevi nada sobre o que aconteceu em Londres... Pensei fazê-lo, mas por uma vez não são precisas palavras... não há palavras.
Resta-me o consolo de saber que pelo menos as pessoas que conheço estão bem...

:(

está quase...

Segunda-Feira vou adicionar um novo Link... :)
Só pode ser segunda, porque foi assim que foi combinado. É um novo Blog para o qual fui convidado, mas que só arranca para a semana..

É feito por várias pessoas, todos portugueses, cada um num canto diferente do mundo ;)

quarta-feira, julho 06, 2005

Água

Foram quase quatro semanas, mais concretamente 26 dias... de desespero.
Ontem vi finalmente correr água nas minhas torneiras.
Após tanto tempo torna-se-me difícil compreender o que passei. Sei que durante a tarde toda passeei com um sorriso que levou a Hazel a dizer "Somebody is happy today!"

Ao fim de 3 semanas consegui finalmente fazer a WASA aparecer cá em casa para me encher os tanques... Depois chamei de novo o canalisador (Mr. Anthony) e fiz questão de estar cá quando ele viesse verificar a canalização, à procura de um problema que na altura não se sabia definir...
Foi uma manhã de espera... e uma tarde de trabalho. Quando fizemos correr a água do tanque descobrimos, debaixo da casa, um tubo que se tinha deslocado...
Toda a água que chegava estava a ser escoada para a terra, silenciosamente e escondida do nosso olhar.
Quando ontem o Mr. Anthony me disse que tinha descoberto o problema senti um misto de incredulidade, dúvida, e ao mesmo tempo um desejo tremendo de que tivesse razão.
E de facto, assim que se ligou de novo o tubo, tudo começou a trabalhar. Era um prazer ouvir as torneiras a correr de novo na loja do piso de baixo e as pessoas a rir.
Quase parecia ridícula a felicidade infantil que tínhamos ao ver de novo a água. No nosso caso foi como se nos tivessem tirado um martírio de cima.
Foi um mês (quase), a carregar garrafões, a gerir água...

Alguidares, taças...
A água de lavar as mãos vai para o autoclismo.... a água de enxaguar a loiça é usada para limpar a cozinha... etc..
É o racionar de todos os gestos, o cuidado para não sujar as mãos...
Cozinhar é complicado, e a loiça acumula-se para ser depois lavada toda de uma vez...

Valeu-me sobretudo o apoio do Bernard, que me "ofereceu" uma casa de banho em casa dele, assim como alguns jantares, se tinha o "azar" de chegar um pouco mais tarde a casa dele...

Ao fim de tanto tempo o que inicialmente é incómodo tornou-se uma rotina exasperante. Só apetecia fugir de casa. É impressionante a nossa dependência perante a água...
Os gestos, de tanto serem repetidos, tornam-se naturais, mas não menos duros.

Trinidad não é, definitivamente, um país fácil. A desorganização dos organismos públicos ultrapassa os limites do bom senso.
Falei com uma Ms. Inrgrid, uma Ms. Stacey, um Mr Richards, um Mr. Joseph, um Mr. Horace, e outros nomes que entretanto esqueci... Técnicos, telefonistas, supervisores... Perdi a conta dos números, dos cargos... de cada vez que falava com alguém tinha que explicar tudo de novo, e ouvir constantemente um: "tem toda a razão, é inadmissível...", mas solução.... nenhuma.

Não sei ainda como tive paciência para tanto...
Desesperei com o desprezo de que me senti alvo, e que não é diferente do modo como toda a gente é tratada por estes organismos.
Lembro-me de ter escrito uma vez que gostava de não ser tratado de modo diferente em relação aos trinis. Desta vez soube na pele o que isso significa, e percebi porque Trinidad permanece tão atrasado, apesar da riqueza que vai acumulando..

Mas ontem a água voltou a correr. Graças a um canalisador que também é músico (toca "pan" há 25 anos) e que acabou por me convidar para aparecer no "panyard" dos All Stars um dia destes.
Voltei a sentir-me perdido. Pela primeira vez tudo funcionava. Não precisava de ir de novo a casa do Bernard. Tive que pensar de novo duas vezes nos meus gestos, perceber que desta vez a água chegava a casa pela (quem haveria de dizer...) torneira!!!

Ri-me... Durante o dia todo.

Hoje,ao fim de tão pouco tempo, já tudo parece uma miragem. O conforto de ter água leva-me a conseguir finalmente rir do que se passou... Mas foi duro. Habituamo-nos a tantos confortos e esquecemo-nos tão depressa como tudo pode correr mal...

Nunca tinha pensado a sério o que seria não ter água. Apesar de tudo tinha a quem recorrer, mas não quero imaginar o que teria sido se não tivesse a casa do Bernard...
Estamos tão habituados a ter como garantido o acesso a bens tão básicos e essenciais que nos esquecemos de como são importantes e nos fazem falta.

Enfim,

acho que vou tomar um banho :)

Sobre a minha escrita

Gosto de escrever. Sinto que de certa forma me vou viciando neste modo tão pessoal de guardar memórias. Nunca dei muita "importância" ao que escrevo. Faço-o por necessidade, por prazer. Ajuda-me a perceber o que sinto, a guardar memórias, e quem sabe, a aprender qualquer coisa também...

Quando escrevi "Gabriel" fi-lo sobretudo por uma necessidade urgente de desabafar, de organizar a minha cabeça, de perceber o que tinha visto. A visita às escolas "perturbou-me". Não porque não soubesse o que ia ver, mas talvez por não estar preparado para a extensão do que vi.
Contudo nunca pensei, quando me agarrei a este teclado (estranho como do papel se passou para o teclado e o ecrã...), ser capaz de pôr por palavras tudo o que senti.
E no entanto as reacções, as respostas que recebi, não apenas aqui neste blog, mas também no e-mail, no messenger, ao telefone, obrigam-me a voltar atrás e a reler-me.

Quando comecei o Blog, fi-lo sobretudo porque já eram muitas as "vozes" a pedir notícias, fotografias, etc... Acabou por ser uma forma simples e de certo modo divertida de mostrar os meus dias, de partilhar o que aqui tenho vivido.

Hoje vou descobrindo que, com a minha escrita, acabo por tocar também quem me lê... e "assusto-me".
Lembro-me de uma conversa sobre palavras, e do seu poder. Da força imensa que podem ter, para destruir um mundo, ou construir a mais sólida das amizades, de como podem mostrar tanto, e de como é fácil arrependermo-nos delas...
As minhas, sempre as considerei "vulgares", de pouca importância para os outros que não eu. Nunca as partilhei muito, a maioria do que escrevo guardo para mim.

As vossas respostas obrigam-me a repensar o que estou a fazer. Cresce em mim uma satisfação enorme, mas também uma nova "responsabilidade" e receio por sentir que afinal "chego" mais longe do que alguma vez esperei...

Obrigado portanto...
Por me lerem, mas sobretudo por me fazerem escrever cada vez mais.
Pela confiança e apoio que me dão,
Por me tornarem exigente, e me levarem a acreditar no que faço,
Por me levarem a partilhar, sem medo, o que sinto e o que vivo..

Obrigado..