Gargas Tropical

quarta-feira, agosto 31, 2005

Aspirinas

Fui comprar aspirinas. Perguntaram-me quantas queria...
Encheram-me um saquinho e puseram-lhe uma etiqueta.
Vendem-se uma a uma, à antiga. Só os frascos de vidro cheios de comprimidos no fundo da farmácia é que foram substituídos pelas caixas de plástico e cartão que todos nós conhecemos actualmente...

sábado, agosto 27, 2005

A minha casa

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A casa que poucos conhecem, e que finalmente me resolvo a mostrar.
É pequena, com um quarto, uma sala, uma kitchenette e uma casa de banho. Suficiente para mim.

Tem um tecto alto e um chão em madeira. Soalho a sério.

Fizémos-lhe obras (o Bernard e eu) quando para aqui me mudei. A cozinha e a casa de banho são "novas", assim como os azulejos no corredor.
As cores das paredes escolhi-as eu depois de propor um branco e ouvir como resposta, "nem penses nisso, estás nas caraíbas" que é como quem diz: "escolhe é umas cores de jeito, vivas de preferência"
Tinha medo do vermelho seco. De vir a enloquecer com um tom destes, mas gostei da escolha. É uma cor confortável e deliciosa quando o sol laranja do fim da tarde lhe bate na parede.

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A minha casa fica num primeiro andar, sendo que à minha volta todas as outras têm apenas um piso térreo. Dela vejo a montanha. não vejo o mar... :(

No calor do meio dia é um refúgio, mantendo-se fresca com o seu tecto alto, os blocos de ventilação nas paredes e as muitas janelas que tem. De noite mantém-se fresca, o que é um descanso para dormir, sobretudo num clima destes.

Ao fim destes meses tornou-se a minha casa. A primeira que tenho "minha".
Decorei-a com as minhas fotografias a preto e branco que trouxe de portugal, e com o cartaz do 25 de Abril da Vieira da Silva.

Tenho também um jardim e uma árvore de que já falei anteriormente, uma goiabeira que agora está sem goiabas :(

O jardim não é grande, mas faz as delícias das heras que se aventuram a atravessar os passeios de betão e a subir as paredes se me descuido por mais de 15 dias. De vez em quando é visitado por uma gata branca, sobretudo à noite que foge quando me vê à porta de casa.

Costumo sentar-me na escada, quando o tempo está bom e quero ler. Gosto do "silêncio" e do "sossego" que a agitação e a música dos pássaros trazem, e de como fazem esquecer o ruído dos carros.

Ainda estou vivo

Não ando esquecido. A verdade é que não me tem apetecido nestes dias escrever.

A minha mãe esteve cá. regressou no Domingo passado. Tê-la cá foi muito, muito bom. Indescritível. Nestes quinzes dias tão curtos procurámos matar saudades. Há muitos anos que não tinha assim umas "férias" só com ela. Receava a chegada dela depois de tanto tempo sem nos vermos. Sabia também que ia estar a trabalhar e que por isso seriam umas "férias" bem diferentes, repartidas em passeios e emprego.
Correu tudo bem. Até a chuva (ou a falta dela) colaborou dando-nos dias únicos de sol, tão diferentes das chuvadas loucas dos últimos dias...
Falámos e divertimo-nos muito depois do "choque" do primeiro dia. Entre praias lindas, passeios, jantares fomos matando saudades de tantos meses longe. Confesso que não sabia bem o peso da distância, da decisão que tomei em deixar Portugal.

Mas o tempo voou depressa e no Domingo passado lá regressou ela. A separação foi complicada, mais do que quando saí de Portugal em Fevereiro. Talvez por já conhecer desta vez o sabor das despedidas, da separação que trazem...

Foi no aeroporto que me senti a quebrar, quando a vi atravessar as portas para o átrio das partidas.
Depois foi o regresso a casa. A Leen fazia anos, e a tarde que passámos todos na praia soube-me muito bem. Só saímos de lá quando já era noite, apenas para continuar a "festa" em casa deles.

Como soou a estranho acordar na segunda-feira seguinte e encontrar de novo a casa vazia, apenas uma cama desmanchada. Tão presente ainda a visita. Algumas coisas marcavam ainda com tanta força os dias em que aqui esteve.

Precisei de uns tempos para mim... para pôr de novo a minha vida em ordem, desta vez sozinho até Dezembro, pois a época das visitas terminou.
Aproveitei para ler. Terminei a História do Cerco de Lisboa (do Saramago), comecei a Memória das minhas putas tristes, do Gabriel García marquez.

Contrariando o que escrevi em cima... Apetece-me escrever. Mas continuo sem saber por onde quero começar .... ou o que quero dizer :)

terça-feira, agosto 16, 2005

Tobago

Depois de fim de semana prolongado quer para vocês como para nós (voltámos 2ª feira de Tobago) cá vão mais uns relatos da nossa aventura.

Saímos perto das 7 e pouco da manhã para o cais, pois o check-in é demorado e havia o problema do carro ter de embarcar. Explico melhor: trinis são tipo alentejanos de Amareleja quando têm 44º de temperatura no Verão; depois a cena do carro pode-se tornar dramática, dado que eles vão sempre aceitando os automóveis que entram e na hora da partida podem não caber todos, como verificámos na volta. Como somos pontuais cumprimos todos estes rituais (olha, fez verso!!!) e nunca tivemos problemas. Esperámos durante 2 horas – eu na gare e depois ao ar livre sentada numa cadeirinha e com uma cobertura de lona e o Pedro fora da gare, no parque, com o seu Honda Civic que é a marca que mais existe nas ilhas..

Finalmente, vindo de Tobago, chegava atrasado o barco que voltaria ao destino donde vinha. Espanto dos espantos: a população que esperava comigo levantou-se e começou a bater palmas. Só me lembrei das comemorações quando um barco é lançado ao mar pela 1ª vez, mas como não havia champanhe, achei que também podia ser a vinda de soldados das nossas ex-colónias, no cais de Alcântara, embora nunca tivesse assistido a nada destas cenas ao vivo. Depois de saírem os que estavam no barco e entrarem os que iam para Tobago, partimos com uma hora de atraso. Nada mau. Duas horas e quase meia de caminho. Neste meio tempo é que é ver os passageiros, em especial os indianos, “raparem” de suas caixas de comida e “lançarem-se” às mesmas como se não comessem há meses. E como não podia deixar de ser...PORCARIA que funcionário negro vai recolhendo para um saco de lixo.

Depois quase hora e meia para sair do cais. O Pedro dizia”...é mesmo assim mãe.”

E assim foi. Chegados à casa que tinha sido marcada, já não o era, pois no dizer do dono da mesma, a secretária marcara a casa sem olhar à agenda a outra família. “Calma! Nada que eu não esteja habituado a resolver” – dizia o enorme negro e dono, aos inquilinos temporários. E lá arranjou... um apartamento... que só contarei ao vivo.

Tobago como ilha é linda. A cidade, um nome que eu nunca consigo dizer – Scarborough – é simplesmente horrível e o Pedro diz que se lembra sempre da Charneca da Caparica devido à incontável profusão de anúncios que existem. Passeámos de barco, mergulhámos para ver peixes e recifes. O senhor que vendeu o bilhete ao Pedro, não lhe perguntou o nome e assentou no talão: “tall man”.

As praias são lindíssimas e não deixei de ir tomar banho a Pirate’s Bay não se desse o caso do João não perdoar ao irmão ou à própria mãe. Era já fim de tarde, por isso foi um mergulho, ver muito bem e voltar. 158 degraus para esquecer – a praia é mesmo lá no fundo, mesmo lá em baixo. De caminho o senhor do bar que nos vendeu uma garrafa de água, perguntou ao Pedro se eu era a sua “mummy” e quando ele respondeu que sim disse “she’s wonderful” – fiquei sem saber se ficar se voltar para Portugal; e ele ficou olhando até eu desaparecer, com os olhos mais doces que eu já vi – QUE LINDO!! Estava a falar a sério, não estava a gracejar. O meu filho até corou e sorriu imenso.

Ontem antes de voltarmos para Trinidad bebemos um expresso a valer num café dum italiano que vive em Tobago há 11 anos. Como eu gosto: com naperonzinho, e um “petit chocolat” no pires. Saboreámo-lo muito bem, pois os trinis não bebem café como nós. Também é raro ver alguém fumar!

Dado que as descrições de paisagens, edifícios e gentes têm sido muitas, desta vez mandamos antes dois exemplares portugueses (únicos) que já são património das ilhas, visto um deles ter mais de meio século e o outro mais de um quarto de século.

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Temos falado muito, temo-nos divertido e passeado muito e mais que tudo temos rido, rido, rido muito. O tempo da minha partida aproxima-se, mas foi muito bom. Penso que as saudades agora ainda vão ser maiores ou então sentidas de uma forma diferente. Tem sido muito bom para os dois esta vivência. Mas... do outro lado do mar espera-me o meu João. Como é difícil partilhar estas distâncias!!

Beijos a todos, não esquecendo os sobrinhos adoptivos.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Trinidad

9 e 10 de Agosto

Meus queridos.

Acham que me podia esquecer dos amigos? Claro que não, mas não tem sido fácil encontrar tempo para vir ter com esta máquina dos tempos modernos, que nos permite saber rapidamente de todos. Relatando:

Aqui cheguei a Trinidad depois de uma longa viagem e o receio de N.Y. ser o local onde me poderia perder (pois vocês sabem como é o meu sentido de orientação! Nada disso: pois o esquema que o João me fez do aeroporto estava IMPECÁVEL. Depois de um inglês muito macarrónico, cheguei sem grande dificuldade (mas com grande velocidade, dado o escasso tempo entre um voo e o outro) perto do meu filho. Ele esperava-me calmamente no aeroporto, pois o placard das chegadas dizia que o voo estava atrasado no preciso momento em que eu já estava a sair da alfândega. Sem comentários.

Na alfândega disse logo que só falava “a little” de inglês e a senhora quis ver a mala pequena; depois deu-me os parabéns, porque afinal eu falava bem e fazia-me entender – novamente para quem saiba como é o meu inglês, sem comentários.

Depois foram abraços fugidios não fosse alguma lagrimita saltar e aí viemos para casa. Uma casinha simpática e que o Pedro tinha já preparada para a minha chegada com jantar e tudo. Cansaço, dormida e conversa meio tímida. Muita vontade de perguntar tudo e nem saber por onde – apenas trocas de olhares e uma ou outra festa – alguns sorrisos entre olhares um pouco frágeis. No dia seguinte demos uma volta enorme durante todo o dia. Passámos por Arima (depois mostro o mapa) e fomos até Asa Wright ver os colibris; o almoço foi numa casa colonial, linda de morrer, toda em madeira e com uma varanda virada para a floresta; de seguida foi uma visita guiada pela floresta onde vi lagartos e um bicho tipo porquito de que não me lembro o nome. Depois fomos a Blanchisseuse, bem ao norte, tirámos muitas fotografias, passeámos pela praia ao fim da tarde – em Maracas e regressámos já tarde.

No domingo preparávamo-nos para ir dar um passeio pelo “Pântano” quando o Bernard nos telefonou e convidou-nos para passarmos o dia com ele, a mulher, um amigo (o Bob) e o casal dos belgas, numa casa que tem numa das ilhas perto de Port of Spain. Fomos de barco e eu vi uma das casas mais bonitas que possam imaginar – tenho fotos e espero que tenham ficado bem.

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Ontem, 2ª-feira, foi a grande aventura, pois larguei sozinha até ao atelier onde o Pedro trabalha e fui almoçar com ele e com os belgas a um italiano. Depois de almoçar fui para a Baixa, onde me senti perfeitamente à vontade embora percebendo que era uma estranha no meio dos indianos e africanos que pululam na cidade. Senti o peso de me estar a intrometer num meio que não me pertencia e apercebi-me de como deve ter sido difícil o peso da colonização. Agora era eu (simples cidadã europeia que me introduzia num mundo bem diferente do meu). Fiz compras para a casa (alguidar, facas, garfos, taças para doce, além de produtos de limpeza... e um ou outro produto para limpeza mais profunda; falei do Figo e do C. Ronaldo numa drogaria onde comprei ácido muriático e voltei ao atelier para que o Pedro trouxesse as compras quando saísse. Vim para casa novamente a pé, fiz jantar e fui ouvir o ensaio dos Invaders – monumental. Uma vontade de dançar, mas o único par que encontrei foi um miúdo com 4 anos que metia qualquer professor de dança a um canto, quando dançava merengue – ri-me imenso e ele ensinou-me a ser mais rápida.

Hoje, depois de passear por outra zona da cidade - St. James (sempre sozinha, como devem perceber, pois o Pedro está a trabalhar) comprei papel auto-colante para forrar prateleiras, fruta e vim para casa. Numa lojeca onde comprei água encontrei o senhor “Gomes” um trini de descendência portuguesa (uma família que veio do Funchal). Convém dizer que estes passeios ocupam uma distância de cerca de 3 a 4 Km, à excepção do 1º dia que devo ter feito uns 6 a 7 km. Fiz sopa, fricassé, um bolo e uma limpeza à casa – forrei as prateleiras; acrescentei as cortinas com nova modalidade que tinha trazido de Lisboa.

Presenciei pela 1ª vez uma tempestade tropical que demorou cerca de uma hora. Parecia que despejavam duma vez só baldes de água ou que todas as torneiras se tinham aberto no máximo ao mesmo tempo. Quando o Pedro chegou fomos ver a CATEDRAL DE BAMBU – merece maiúsculas – dum lado e doutro da estrada crescem bambus enormes que devido ao peso se juntam a uma altura enorme, fazendo uma verdadeira ogiva como se fosse de facto uma igreja gótica. Qualquer foto ou descrição não diz a verdade, pois toda a floresta que rodeia este caminho de estrada é verdadeiramente espantoso.

Hoje de manhã fiquei em casa, pois estava muito cansada de tanta agitação. O Pedro vem almoçar e depois à tarde, penso ir à descoberta de outra zona da cidade. Há casas lindas com beirais rendilhados, em madeira, mas que necessitavam muito de ser todas recuperadas. É uma pena pois parece que as querem destruir para fazer “modernices”

Agora que as notícias estão em dia: a miséria é pior do que aquilo que o Pedro diz. Há em cada esquina, de manhã ou à noite mendigos andrajosos que dormem nos passeios – de todas as idades. Nada é reciclado, entregam-nos no super dúzias de sacos plásicos e por isso o lixo é imenso. Tudo o que falta dizer já vocês sabem pelo Pedro. Algumas lojas têm grades e pede-se o que se deseja por uma janelinha tipo “guiché” – deprime. As pessoas são simpáticas, mas a pronúncia é qualquer coisa de ininteligível. Diz o Pedro que há cerca de um mês é que os entende. Não pronunciam nunca os “RR” o que que´dize´ que falam assim.

O Bernard e a Rose (a mulher) são uns segundos pais quer para o Pedro como para os belgas; gostei imenso deles e agradeci-lhes a forma como têm tratado o meu filho. Ainda bem que trouxe um presente para cada um deles e que espero entregar-lhes para a semana em que penso dar um jantar cá em casa; por enquanto tenho-me estado a habituar aos sabores, pois não quero fazer “má figura”. É difícil perceber como acabando de conhecê-los, falando com dificuldade, rapidamente brincávamos e pegávamos em tudo o que era necessário para preparar o almoço. Depois conto os pormenores.

Sexta-feira partimos para Tobago, donde voltamos na 2ª feira de manhã.

O Pedro pôs-me a alcunha de “chuveiro ambulante”, pois desfaço-me em água enquanto ando na rua. Felizmente que a casa dele é fresca.

Estou ainda tão em cima dos acontecimentos que não sei dizer muito mais. Prometo que quando escrever no papel o farei com muito mais cuidado e carinho para todos os que me gostam de ler e ouvir.

Beijos a todos - MariaVona

quinta-feira, agosto 04, 2005

Pausa

Muito provavelmente, pausa do blog para os próximos quinze dias ....
Amanhã chega a minha mãe :)