Gargas Tropical

domingo, novembro 27, 2005

E faltam tão poucos dias....

Tem caído contínua. É assim o clima nos trópicos, com seis meses secos e seis de chuva. Os dois últimos revelaram-se mesmo completamente intransigentes com o sol, negando-lhe qualquer abertura.

Tempestades tropicais, cheias, muita água tornaram-se a medida do tempo, com a humidade a somar-se ao calor e a dar-me cabo do nariz...

A praia a que me habituei aos fins-de-semana era já uma lembrança de certo modo longínqua numa altura em que tive de descobrir alternativas ao tempo livre.
O guarda-chuva tornou-se obrigatório, assim como os lenços de papel...

Foi neste ambiente que nos mudámos no início da semana para o novo atelier, deixando para trás o espaço emprestado pela ENCO (uma companhia de engenheiros com quem trabalhamos).
Ainda não está pronto, mas já o adoptámos, sem quaisquer saudades do anterior.
Dos interiores encerrados, sem janelas, sem qualquer referência, mudámos para um espaço de luz.

O Bernard construiu o novo atelier junto à casa dele num edifício novo de 2 pisos. Trabalhamos no andar de cima e as fachadas em vidro são um sonho para quem como nós se encontra do lado de dentro. Pela primeira vez num ano de trabalho vejo o sol a passar, o dia a mudar, as variações do tempo, e apercebo-me de como é importante este pequeno grande conforto.

Mas como neste país tudo tem o seu momento, claro que muita coisa ainda não está pronta. Durante o dia os homens das cortinas vêm tirar medidas e trazer os estores. as mesas estão a meio e precisam ainda de ser folheadas... faltam divisórias em vidro, arquivos de ficheiros, etc... mas dá gozo ir vendo o espaço a tornar-se aquilo que desenhámos...
É que se o projecto do edifício é do Bernard, os interiores foram decididos por todos e só aceites após consenso :)
Desde a escolha das cores ao desenho das mesas em tudo parece haver o toque de cada um de nós, e ainda hoje vamos tomando decisões sobre as coisas que faltam.

E como que a dar as boas vindas, o sol voltou. Uma semana de bom tempo que ainda não sabemos se será o anúncio da estação seca...
Claro que os planos para o fim de semana mudaram todos e o novo destino só poderia ser Maracas.
Sábado e Domingo foram passados na praia, com um calor que não foi excessivo e sobretudo, sol, que não via há mais de 2 meses... A água quente ainda anda agitada, recordando-nos que pode ser só temporário este prazer... mas como foi bom estender-me de novo na areia e ficar na praia até o sol se esconder por trás das montanhas.
A água esteve verde e muito brilhante. Quando me descobri dentro dela apercebi-me de como estava transparente, sendo possível contar os dedos mesmo quando molhado até ao pescoço :)

O almoço claro que foi Bake & Shark (no Richard's, o melhor como sempre), e de repente voltei a recordar os primeiros dias em Trinidad quando tudo ainda era novo para mim. Desta vez senti já uma espécie de ritual... A praia aqui é para ser vivida de uma maneira muito especial e só hoje vi como já tinha saudades destes momentos.

Entretanto aproxima-se o Natal. As lojas e casas iluminam-se e cresce no ar uma febre que me é tão familiar mas com a qual não me consigo aqui identificar... É que Natal implica frio, e andar de chinelos e calções parece fazer tudo menos sentido nesta época. As pessoas compram prendas e nas rádios só se houve Parang, de raízes sul-americanas e geralmente cantado em castelhano. Claro que tem ritmo, muito dançável, embora mais suave que a soca, mas tão diferente do nosso conceito de música de natal...

Os olhos começam também a estar postos no fim de Fevereiro. Mais que o Natal enquanto celebração, o que parece importar é que há um indício de que o ano chegou ao fim. Voou, e o grande formigueiro é mesmo o Carnaval. Os "Mas Camps" já lançaram e vendem as máscaras, e as músicas começam a surgir. A 3 de Janeiro (sim, com data marcada!) começam os ensaios para a música principal que os Invaders vão apresentar no "Panorama" e que eu espero vir também a tocar em conjunto com mais 180 músicos!!!!!

Para mim é a proximidade do 7 de Dezembro. É pouco mais do que uma semana o tempo que aqui me resta antes de regressar a Lisboa ao fim de tantos meses.

Tanta gente para voltar a ver, recordações que procuro manter adormecidas mas que começam agora a saltar incessantemente.

Tantas saudades que espero finalmente "matar" :)

quinta-feira, novembro 17, 2005

Alemanha 2006

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E quando pensava que já ia conhecendo este país, um jogo de futebol mostra-me quanto andava enganado...

Antes de tudo uma correcção, em relação ao último post... Afinal não tive uma hora de almoço mais longa... tive a tarde toda livre a partir das 11h00.

O jogo vimo-lo em casa do Bernard. Eu, o Jannes, a Leen, a Kanietra e o Bernard. Claro que todos apoiávamos Trinidad, mas era da parte do Bernard e da Kanietra que se viam as maiores explosões de stress. O bernard saltava da cadeira e batia com os pés no chão... A kanietra gritava com a televisão, e todos, em coro, mandávamos calar um comentador que parecia estar a dormir e que a cada cinco minutos dizia: "estamos quase lá"... É que um golo podia estragar tudo.

O jogo acabou, e ainda sem acreditarmos muito bem, Trinidad estava no Mundial. Os telefones funcionaram por cinco minutos (talvez menos).... depois a rede entupiu... Uma buzina ao longe fazia-se sentir, era o apito do silo de cereais, mas nas rua o silêncio permanecia monumental...
Saímos, e decidimos espreitar St. James antes de seguir para o escritório. Enquanto guiávamos víamos as portas das casas a abrir e famílias inteiras a sair. O país parou para um jogo e se tudo estava calado era pelo facto de sermos os primeiros a chegar à estrada...
St. James estava um caos, e fizemos questão de atravessar duas vezes as rua, uma em cada sentido...foi quase uma hora no trânsito...
As escolas encerraram e os alunos todos ainda com o uniforme do colégio dançavam nas ruas ao ritmo da soca, sobretudo a música da selecção "We are the Soca Warriors". Qual Nelly Furtado a cantar para o Europeu, isto sim era "música de futebol" a um ritmo alucinante como só a soca sabe dar (diria que mais forte que o samba brasileiro). Latas de tinta, paus, garrafas, tudo o que fizesse barulho juntou-se em secções rítmicas improvisadas numa festa que começava...
Nas entradas das lojas as pessoas festejavam, sem saberem muito bem se deveriam fechar e seguir para as ruas, ou se permanecer com as portas abertas.
Vermelho... muito vermelho e preto. Nas roupas, nas faixas que ficaram guardadas do dia da Independência, nas bandeiras nos carros. A kanietra saiu do carro no meio do trânsito para comprar um lenço vermelho e preto...

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A caminho do atelier ligou a Hazel... Próximo destino, Squeeze Bar, "ordens" do Mr. Mackay. Nem valia a pena ir trabalhar... Percebia-se nos olhos de qualquer trini que este dia era especial (sobretudo depois de um terrível em 1989 em que perderam tudo por um golo), e para o Bernard não era diferente. Dizia ele que nunca tinha visto nada assim, enquanto eu me lembrava das noites loucas do Euro quando Portugal ia subindo de lugar em lugar...
A festa começou às 15h00, e era perto das 22h00 quando cheguei, já morto, a casa... Às 19h00 alguns bares já tinham fechado com ruptura de stock... Nas ruas improvisaram-se vendas de bebidas ambulantes, e os vagabundos corriam as ruas a apanhar garrafas com depósito.

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Kanietra

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Chris e Hazel

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Jannes

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Chris e Leen

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Chris e Bernard

Mas foi ao fim da tarde que a notícia mais improvável (pelo menos na minha cabeça) surgiu... O governo declarou hoje feriado nacional...
E aí sim, o mundo pareceu cair com o peso dos gritos e saltos de todas aquelas pessoas. A soca disparou e toda a gente dançou e conversou a noite toda...
O trânsito estava definitivamente "cortado" pela população nas ruas, enquanto os polícias assistiam impotentes. Incapazes de manter as faixas abertas olhavam a festa sem vontade nenhuma de a estragar...

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terça-feira, novembro 15, 2005

Futebol - e a saga continua

Só para criar um bocadinho de inveja (e fingir que tenho um "post" novo...)

Bernard - "Então? Amanhã é o jogo!" (Barhain - Trinidad - para decidir definitivamente qual dos dois vai ao mundial)

Leen - "pois, é uma pena que seja ao meio-dia... vamos estar a trabalhar..."

Bernard - "O quê???!!! Não, não, não... não vamos perder um jogo tão importante... Faz-se uma um almoço mais longo e vamos vê-lo para qualquer lado!"

Ai caraíbas.... :) :) :)

quarta-feira, novembro 02, 2005

Diwali

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O diwali foi ontem. Também conhecido como festa das luzes é uma celebração religiosa Hindu, e em Trinidad feriado. Explicar o diwali não está ao nível de qualquer um, pois a versão longa inclui 5 dias de festa, dezenas de deuses e lendas, pelo que o preferível mesmo será uma pesquisa por outros lados... (sorry...). Para leigos como eu, estes dias podem ser "comparados" ao nosso natal e ano novo.

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Trinidad tem uma comunidade indiana enorme pelo que é muito simples ver pelo menos a parte visível desta celebração, a festa das luzes.

Claro que assim que o sol se pôs saí para ir espreitar as ruas. Caminhei por St. James e Woodbrook, onde alguns jardins e ruas tinham sido preparados para o Diwali. Mal escurece acendem-se as deyas (lê-se diias, pelo menos aqui...), pequenas conchas de barro. Nelas coloca-se um certo óleo e um pavio ao qual se pega fogo.

Quem me conhece sabe da minha "fixação" pelo fogo, e como consigo passar horas a olhar para uma chama. As deyas, talvez pelo seu carácter mais tradicional, têm em si uma dimensão profundamente acolhedora. Ao vento a chama branca dança suspensa parecendo sempre que vai fugir, e durante toda a noite centenas de pessoas permanecem junto a elas, garantindo que se mantém acesas.

O bambú é utilizado para as suportar. Com ele fazem decorações com as mais variadas formas: aranhas, símbolos religiosos (cruz suástica, estrela de 5 pontas, estrela de david) foguetões,carros, comboios, tudo o que a imaginação possa comportar parece ser válido. As deyas acompanham as linhas destas estruturas imaginárias criando autênticos objectos de luz.

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Contudo é necessário conduzir até ao interior do país, durante a noite, para compreender verdadeiramente a dimensão desta festa (ou pelo menos assim nos foi dito...). Para mim, que não conheço propriamente bem Chaguanas isto era um problema. Felizmente que recebi um telefonema de uma amiga que ia a Felicity (sim... é mesmo o nome de uma cidade bem no centro do país) para tirar fotografias :)
Ganhei uma boleia e lá fui, com ela e com os pais espreitar o Diwali numa das regiões com maior número de indianos.

Foram quase duas horas de trânsito alucinante para lá chegar. "Aparentemente" mais gente lembrou-se do mesmo, e estas estradas fabulosas não perdoaram... mas infelizmente para todos, grande foi também a desilusão...
Sim... luz não faltou. Tanta que parecia ser dia... mas era luz eléctrica. Luzes de natal verdes, vermelhas, azuis, brancas numa ostensividade e quantidade de tal modo opressivas que quase se tornavam ridículas. Nas casas, nos carros, em todo o lado.

De vez em quando uma casa com deyas. E é tão diferente a sensação que estas produzem, como um contraponto. O recolhimento, a oração de um lado, o consumismo desenfreado do outro, com milhares de décibeis cuspidos pelas colunas de som.

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Valeu pelo menos o passeio. Sempre nos rimos e gozámos com a situação (acho que não havia outro modo de lidar com ela) e lá tirámos algumas, poucas, fotografias...

Valeu também pelas roupas magníficas que vi. Pela importância do momento, não havia mulher que não estivesse vestida com um Sari. Lindíssimos, em todas as cores, como só vistos em filmes. Por um momento a sensação de estar em plena Índia foi real e só lamento a noite por tornar impossível qualquer fotografia de jeito das pessoas...

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