Gargas Tropical

domingo, março 26, 2006

quase... quase...

E faltam só 24 horas,
e amanhã, por esta hora, estarei no Aeroporto.

A primeira visita,
o Meu irmão que chega :)

estou feliz

quinta-feira, março 23, 2006

terceiro mundo...

O pêndulo do "big ben" (sim, o relógio de Londres) é afinado através da colocação de "penys" no topo para compensar variações no centro de gravidade e mantido três vezes por semana por um técnico da Thwaites and Reed.

O relógio do Queens's Royal College está parado. Felizmente, de acordo com o parecer do Mr. Lee, um técnico da mesma empresa que cá esteve esta semana para o inspecionar. A sujidade nas rodas dentadas é tanta que enquanto não for reparado não poderá continuar a funcionar.

O relógio da President´s House continua a girar. "Não pode parar", dizem as pessoas da casa, mas sem nenhum motivo aparente para que assim seja. E por isso funciona...
E entretanto estraga-se.
Tem perto de 200 anos e é mantido pelos mecânicos dos carros presidenciais que não compreendem porque motivo precisamos de um técnico próprio para o inspeccionar...
e é afinado...
com tijolos...

Deveria precisar de corda uma vez por semana. Afinal tem que ser cada dois dias.
Mas funciona...
Atrasa 10 minutos por dia... mas basta acertar os ponteiros...
e estraga-se...

Mas não pode parar. Os jardineiros gostam de ouvir o sino a tocar.
E no Jardim botânico já é uma referência.

O chefe das garagens, também parece saber "tratar" dele... Orgulha-se do seu trabalho e não fica muito satisfeito com a nossa presença.

E ao longo dos meses cresce a dúvida... resisitirá até ao restauro? E quando será o restauro?

Porque a burocracia afunda-se na própria burocracia e já nem se destingue a si própria... atando mãos e braços do próprio cliente, O Ministério das Obras e Transportes.

A casa, que deveria estar vazia desde Outubro continua ocupada. E as funções presidenciais agendadas até Maio. Mas não se pode subir ao segundo piso, onde o chão se desfaz quando andamos, cedendo à gula das térmitas.
A mobília empilhada pelos quartos mistura-se com documentos oficiais, antigos... com mais de 30 anos e das torneiras já não sai água
As sanitas secaram e estão negras, cheias de calcário.
Os pombos passeiam-se no sotão, e numa das varanda uma coruja branca, de igreja, fez a casa.
Um susto...

Mas durante dois dias vi relógios, ouvi estórias.
E aprendi um pouco de como funcionam, e de como um dedo apenas tem força para parar aqueles gigantes!
Mecanismos impressionantes, e delicados também. Silenciosos, precisos, movem sinos de dezenas de quilos e fazem-se ouvir a centenas de metros.

Só que permanecem esquecidos. Como tudo em Trinidad.
Tudo... excepto o Carnaval, o petróleo, e pouco mais...

Não se arranjam... remedeiam-se.
E não é possível explicar o erro a quem, com a maior das sinceridades nos olha e se orgulha de ter improvisado uma solução (adiando o dano, às vezes com implicações tremendas).
Afinal ficou barato... Porquê os especialistas?

E lembro-me da chapa ondulada que vi hoje. Substituia um muro já desaparecido, e estava decorada com azulejos. Poucos, porque a maioria já tinha caído...

E de como a empregada da President's House foi a uma loja dos trezentos. Comprou naprons "made in china" a 3TT$ (60 cêntimos cada) e usou-os para decorar a mesa de jantar numa recepção oficial a embaixadores...

ou como diz o Bernard...

"Well... Welcome to the Third World..."

terça-feira, março 21, 2006

Fotografias

Fotografias novas no link FOTOGRAFIAS
(sim, aquele rectângulo lá em cima, no lado direito... carreguem nele)

:)

domingo, março 19, 2006

IRS

Preencher o IRS já é suficientemente assustador.... mas fazê-lo em inglês...
E sei lá eu que campos são aqueles e o que é que tenho que responder no papel cor de rosa...

Será que não posso alegar iliteracia???????

terça-feira, março 07, 2006

Carnival

Começou num sábado. Ou teria sido ainda durante a semana? Talvez Janeiro mesmo...
Começou devagar, mas sem surpresas, sem dissimulações.
Aos poucos foi crescendo, uma presença cada vez mais forte em cada momento do dia, em cada rua, em cada pessoa.

Explicar o carnaval não é possível sem falar de todo o período de preparação...
Começa muito cedo, por volta de Julho, Agosto. Primeiro são as festas com os lançamentos de máscaras.
Movem multidões e acontecem um pouco por todo o país. Nelas estão sempre presentes as "estrelas" do momento e funcionam como um pré-aviso de existência, passagens de modelos que os Mas Camps promovem para indicarem que o próximo Carnaval não está esquecido e que em silêncio já muitos trabalham para que se torne realidade.

Mas foi em Janeiro que as verdadeiras mudanças surgiram.
Algumas casas que se mantiveram fechadas até Dezembro de repente surgem iluminadas. Têm música, têm portas abertas, e têm nomes que vivem na cabeça de cada Trini. Skandal Us, Tribe, Trini Revellers, IslandPeople, Peter Minshall, Poison,Harts...
São os Mas camps, e as máscaras estão finalmente à venda. Alguns esgotam em 24 horas as reservas. Outros, como Tribe, são tão grandes que na parada de terça feira têm uma extensão de 1km de pessoas...
O trânsito na cidade enloquece... Na última semana conduzir à hora de almoço tornou-se um teste à paciência e é evitado a todo o custo... Os fatos estão prontos, têm que ser provados, corrigidos.
As pessoas faltam aos empregos para tratar do Carnaval, e as capas de jornais mostram um país em festa contínua...
As "Fetes" surgem um pouco por todo o lado. Todas as sextas e sábados, por vezes durante a semana. São às dezenas e há quem as corra a quase todas. Gastam-se fortunas acumuladas ao longo do ano, 15 contos uma festa, 50 uma máscara barata... mais 30 se se quiser ter comida e bebidas no dia do carnaval...
Tudo junto pode ascender rapidamente às centenas de contos, mas as pessoas parecem não se importar... é Carnaval...

Surgem as músicas... Destra, Machel Montano, Shurwayne Winchester, Maximus Dan, KMC são os mais conhecidos, mas há outros também.
As músicas repetem-se até à exaustão. Temos que as conhecer quando chegar o momento, e não há Fete importante que não tenha pelo menos dois ou três destes nomes a tocar ao vivo.

Dormir começou a ser tarefa quase impossível, pois tive o azar de escolher uma casa ao lado do Mas Camp Poison e frente ao Oval, estádio de críquete e local eleito para as grandes festas.

Pelo meio começaram os ensaios nas Steelband. Diários, por períodos nunca inferiores a 5 horas, 10 aos fim-de-semana. Deixei de saber o que era a praia, o cinema, ou qualquer outro tipo de diversão. Apenas conhecia o Pan, os outros músicos, os Sticks que me deixaram calos nas mãos.

É já Fevereiro e os ânimos aquecem. Começam as preliminares das competições... Pan, bandas grandes, médias, pequenas, individuais, máscaras, Rei e Rainha nas várias categorias, Soca. Tudo é avaliado, tudo passa por preliminares, meias-finais, finais. Como uma Olimpíada de festa que começa 15 dias antes do grande momento.

O Savannah Park torna-se local de peregrinação e o Palco Panorama é o centro das atenções. São aos milhares as pessoas nos fins de semana. E tudo está apenas no início.

Depois chegam os turistas. Tantos. Americanos sobretudo, alguns japoneses e europeus. Nas lojas e restaurantes o inglês falado aproxima-se do americano e percebe-se o esforço existente em cada trini para se fazer compreender. Volto a ser turista aos olhos de todos e recebo o mesmo tratamento nos locais onde não me conhecem.

No fim de semana anterior há um "teste". O carnaval das crianças, em nada menor que o dos "adultos". Fatos fabulosos, milhares de crianças a enfrentarem uma tarde longa a caminhar pelas ruas. Dançam, saltam. São poucos os que cedem e ainda menos os que choram. As vias são cortadas... começou a festa.

No sábado são as finais do pan. Ganharam os Phase II. Levaram a mesma música que nós, um arranjo diferente e foram excelentes. Fomos espreitar e acabámos por ajudar a levar a banda até ao palco, podendo assistir de muito perto.

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À noite dormi. Foi a última noite...

Domingo começou no Panyard. Até às 20h00. Pausa para jantar e regresso às 24h00..

É a J'ouvert, abertura do carnaval, noite dos demónios...
Lama e tinta são obrigatórios. Mais ainda roupa muito velha, garantidamente para deitar fora depois.
Começa às 4h00 e estende-se até às 10h00 da manhã. Foi uma directa a tocar Pan, pelas ruas puxado por um tractor. À nossa volta gente transformando-se, cada vez mais irreconhecível, criaturas nocturnas, sujas, assustadoras.
Têm 12 anos, têm 80... a idade não importa, hoje não se dorme...

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A manhã acorda com um movimento estranho. As tintas permanecem mas começam a cruzar-se com um outro tipo de máscaras... brilhantes, limpas, muito coloridas.
É segunda-feira, parada informal. começa às 13h00, termina às 20h00. As bandas desfilam com fatos incompletos misturados com roupa do dia a dia. Os camiões TIR propagam-se pelas ruas, mas os contentores foram substituídos por colunas de som. As casas tremem... os ouvidos zumbem com a soca a explodir em cada canto da cidade. Os camiões são pastores e todos a gente os segue. Dança-se o dia inteiro.
A noite encontra apenas mais festas e há quem volte a não dormir. Estou exausto e deito-me. Não durmo... é impossível...

Por fim é Terça-Feira, o último e mais desejado dia. Começa às 6h00 da manhã. Os fatos estão completos e os desfiles iniciam-se. Têm que passar por vários pontos da cidade, palcos onde são avaliados, até chegarem ao Panorama.
organizam-se por secções, cada uma com uma máscara própria e cor única. Formam-se mares de tons diferentes, sempre revoltos. Massas de pessoas, movimentos de cor...

A multidão do primeiro dia afinal era pequena... todos os Hotéis, pensões, casas estão esgotados há quase um ano e são centenas de milhares de pessoas pelas ruas.

Juntamos-nos aos Tribe. Não temos fatos, não podemos passar a segurança, mas seguimos ao lado.
O cansaço mistura-se com um desejo de continuar. Dança-se pelas ruas sem qualquer constragimento e estranha-se quem está parado.
As ruas enchem-se de lixo e cheiros pouco desejáveis, mas as pessoas ignoram.
O sol é abrasador, e o suor escorre, mas ninguém pára.
Tudo se esgota. Comida. Bebidas.

É um dia de excesso a culminar todos os meses anteriores. Mas termina.
E depois é o silêncio como há muito tinha esquecido. Estranho o vazio que não sei definir... Falta o barulho.

As ruas desertas... Volto ao atelier. Já tudo foi limpo.
É quarta-feira e o sonho acabou. As pessoas gozam o fim de semana na praia, comentam o acontecimento e preparam-se...

...preparam-se a partir deste momento para um próximo Carnaval, a suceder já para o ano.
Começa-se a poupar dinheiro, e sonha-se apenas... com as festas que se adivinham em breve, com uma emoção que para muitos é um modo de vida, o momento pelo qual valem todos os sacrifícios...

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