quinta-feira, março 23, 2006

terceiro mundo...

O pêndulo do "big ben" (sim, o relógio de Londres) é afinado através da colocação de "penys" no topo para compensar variações no centro de gravidade e mantido três vezes por semana por um técnico da Thwaites and Reed.

O relógio do Queens's Royal College está parado. Felizmente, de acordo com o parecer do Mr. Lee, um técnico da mesma empresa que cá esteve esta semana para o inspecionar. A sujidade nas rodas dentadas é tanta que enquanto não for reparado não poderá continuar a funcionar.

O relógio da President´s House continua a girar. "Não pode parar", dizem as pessoas da casa, mas sem nenhum motivo aparente para que assim seja. E por isso funciona...
E entretanto estraga-se.
Tem perto de 200 anos e é mantido pelos mecânicos dos carros presidenciais que não compreendem porque motivo precisamos de um técnico próprio para o inspeccionar...
e é afinado...
com tijolos...

Deveria precisar de corda uma vez por semana. Afinal tem que ser cada dois dias.
Mas funciona...
Atrasa 10 minutos por dia... mas basta acertar os ponteiros...
e estraga-se...

Mas não pode parar. Os jardineiros gostam de ouvir o sino a tocar.
E no Jardim botânico já é uma referência.

O chefe das garagens, também parece saber "tratar" dele... Orgulha-se do seu trabalho e não fica muito satisfeito com a nossa presença.

E ao longo dos meses cresce a dúvida... resisitirá até ao restauro? E quando será o restauro?

Porque a burocracia afunda-se na própria burocracia e já nem se destingue a si própria... atando mãos e braços do próprio cliente, O Ministério das Obras e Transportes.

A casa, que deveria estar vazia desde Outubro continua ocupada. E as funções presidenciais agendadas até Maio. Mas não se pode subir ao segundo piso, onde o chão se desfaz quando andamos, cedendo à gula das térmitas.
A mobília empilhada pelos quartos mistura-se com documentos oficiais, antigos... com mais de 30 anos e das torneiras já não sai água
As sanitas secaram e estão negras, cheias de calcário.
Os pombos passeiam-se no sotão, e numa das varanda uma coruja branca, de igreja, fez a casa.
Um susto...

Mas durante dois dias vi relógios, ouvi estórias.
E aprendi um pouco de como funcionam, e de como um dedo apenas tem força para parar aqueles gigantes!
Mecanismos impressionantes, e delicados também. Silenciosos, precisos, movem sinos de dezenas de quilos e fazem-se ouvir a centenas de metros.

Só que permanecem esquecidos. Como tudo em Trinidad.
Tudo... excepto o Carnaval, o petróleo, e pouco mais...

Não se arranjam... remedeiam-se.
E não é possível explicar o erro a quem, com a maior das sinceridades nos olha e se orgulha de ter improvisado uma solução (adiando o dano, às vezes com implicações tremendas).
Afinal ficou barato... Porquê os especialistas?

E lembro-me da chapa ondulada que vi hoje. Substituia um muro já desaparecido, e estava decorada com azulejos. Poucos, porque a maioria já tinha caído...

E de como a empregada da President's House foi a uma loja dos trezentos. Comprou naprons "made in china" a 3TT$ (60 cêntimos cada) e usou-os para decorar a mesa de jantar numa recepção oficial a embaixadores...

ou como diz o Bernard...

"Well... Welcome to the Third World..."

3 Comentários:

Blogger Maria Zezinha disse...

Aqui, essa descrição quase parece irreal e digo irreal porque tb temos coisas que "bradam aos céus"... No entanto parece que aí tudo parou no tempo, parece que estou a ver um filme americano com muuuuiiiitos anos.... é a região do "desenrasca", mas ao mm tempo tão engraçada essa maneira de remediar os problemas... Vai contando, que nós por cá adoramos "ouvir"!!! Beijos (já com muitas saudades) dos tios

24/3/06 08:19  
Anonymous Anónimo disse...

E se experimentasses dizer aos "misters" que "acid muriatic" é bom para o calcário? Não me digas que não te lembraste!!!!
Mãe

24/3/06 09:04  
Anonymous Anónimo disse...

Deve ser complicado continuar a ouvir, e não explodir, não, Pedro?
É que tudo tem limite, até o desenrascanço, mas aí parece que esse limite ainda não foi alcançado...

Acho que se te tivessem deixado poderias ter documentado a tua "reportagem" com fotografias que mereceriam ir directas para a secção "No comments" da Euronews!...

Bjs

marylight

24/3/06 10:51  

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