Futebol
Cada trini transmite por si só uma imagem que transpira constantemente autoconfiança. Surgem como pessoas que tudo fazem para não passarem anonimamente no meio de um grupo.
Esbracejam, falam alto.
Mostram-se nas roupas, muito ao gosto americano e a lembrar os gangs mais terríveis, nos gestos, na voz.
Gostam de chamar à atenção, têm necessidade de protagonismo. O centro das atenções é quase uma obrigação, a sobrevivência do indivíduo no grupo.
A segurança que transmitem recorda-me algumas das imagens que fiz das caraíbas antes de vir. Gente desinibida, que gosta de se divertir, que gosta de se rir... que não receia mostrar-se, que não tem medo da crítica de um olhar desconhecido.
Aqui as pessoas necessitam de se expôr e de manter uma imagem positiva. A linguagem é alías resultado desta maneira de estar. Povoada de expressões (ao jeito dos nossos provérbios) em constante evolução e que procuram ilustrar o desfecho de uma conversa. A capacidade de improviso, de resposta impõe-se, e revela-se sobretudo nos Calypsos, onde os melhores músicos inventam os textos frente a admiradores que lançam temas para as próximas quadras.
Para quem viveu Trinidad na altura do Carnaval tudo isto faz sentido. É um período em que tudo parece valer, e em que as pessoas tudo fazem para garantir que assim o é.
Foi esta a minha primeira impressão sobre esta gente.
E aparentemente tão errada, ou por outras palavras, tão incompleta...
É que nunca conheci povo tão tímido, conservador, receoso nas demostrações de sentimentos...
Nunca pensei que por detrás desta máscara de vivacidade se escondesse uma quantidade tão grande de gente com receio de se expôr.
Em Trinidad não se dança... Ou melhor, dança-se muito, mas apenas se se fôr Venezuelano.
Só quando passa soca, sobretudo se for um dos temas do carnaval, é que se vê um trini a mexer, mas nenhum ousa dançar com um par (excepção para o "wine"...)
Um trini sozinho é capaz de cantar, mas jamais o fará em grupo. Poderá dançar, mas sempre numa atitude individual, para chamar à atenção. Jamais o fará como parte de um grupo.
Este comportamento estende-se às vezes até ao nível do absurdo. Quando um homem quer conquistar uma mulher é capaz de a seguir interminavelmente, e recorre a tudo o que lhe estiver ao alcance para a atrair. Contudo homens e mulheres não se misturam. Mais estranho ainda, não querem misturar-se...
Formam grupos distintos, e só saem juntos se se tratarem de casais amigos.
A mim lembram-me um pouco o espírito dos filmes americanos dos anos 50 em que grupos de rapazes e raparigas se provocam mas sempre à distância, protegidos pelo segurança dos amigos. Mesmo numa discoteca é fácil compreender esta separação nos movimentos das pessoas, nos grupos que se criam...
Ontem Trinidad jogou para o campeonato do mundo naquele que terá sido o jogo mais importante da qualificação. Trinidad tinha que ganhar para ter acesso a uma pré-eliminatória.
Trinidad tem uma péssima equipa de futebol, cheia de "acrobatas" incapazes de jogar juntos. Quando jogam exemplifcam cenicamente na perfeição esta imagem de protagonismo individual e incapacidade de vivência em grupo.
Trinidad enfrentava o México, uma das equipas mais fortes do grupo.
O estádio encheu, pela primeira vez, e os que não conseguiram bilhetes juntaram-se em bares e cafés. Nós seguimos o jogo num bar, o Trotters.
As expectativas eram baixas mas o jogo foi fabuloso. E contudo, tirando a mancha vermelha pelas ruas, era muito complicado perceber o que se estava a passar...
Durante o jogo houve apenas duas reacções, jogar as mãos à cabeça, ou aplaudir uma boa jogada (ou golo). Mas nos tempos mortos nada mais. O receio da exposição perante gente desconhecida inibe qualquer trini, que parece só sentir-se confortável no meio de um grupo de amigos. Ninguém gritou, uma única vez pela equipa... para motivar. Ninguém aplaudiu ou assobiou o árbito, ou os jogadores durante o jogo. ninguém bateu com os punhos na mesa, ninguém reagiu. Poderiam ser nervos do jogo... mas depois acabou e o único carro a apitar nas ruas era...
o nosso...
Alguns trinis acenavam-nos, mas gritar... juntar-se ao barulho... nem um.
Nos bares e nas ruas bebia-se, conversava-se. Mas apenas o vermelho das t-shirts recordava um jogo que promete agora a qualificação para o mundial. Qualquer semelhança com o que se passou no euro e que assisti em Lisboa advém apenas da cor da roupa, uniforme. Pensei que não dormiria nessa noite, mas tirando o helicópero da polícia, o silêncio foi constante.
Porque dentro do seu grupo cada trini é um herói...
Porque exposto a caras novas nenhum ousa demonstrar o que sente.
E contudo Trinidad ganhou.
Ganhou por 2-1, e pode pela primeira vez sonhar chegar a um mundial de futebol.
E os trinis sonham... mas não o mostram... jamais.
Esbracejam, falam alto.
Mostram-se nas roupas, muito ao gosto americano e a lembrar os gangs mais terríveis, nos gestos, na voz.
Gostam de chamar à atenção, têm necessidade de protagonismo. O centro das atenções é quase uma obrigação, a sobrevivência do indivíduo no grupo.
A segurança que transmitem recorda-me algumas das imagens que fiz das caraíbas antes de vir. Gente desinibida, que gosta de se divertir, que gosta de se rir... que não receia mostrar-se, que não tem medo da crítica de um olhar desconhecido.
Aqui as pessoas necessitam de se expôr e de manter uma imagem positiva. A linguagem é alías resultado desta maneira de estar. Povoada de expressões (ao jeito dos nossos provérbios) em constante evolução e que procuram ilustrar o desfecho de uma conversa. A capacidade de improviso, de resposta impõe-se, e revela-se sobretudo nos Calypsos, onde os melhores músicos inventam os textos frente a admiradores que lançam temas para as próximas quadras.
Para quem viveu Trinidad na altura do Carnaval tudo isto faz sentido. É um período em que tudo parece valer, e em que as pessoas tudo fazem para garantir que assim o é.
Foi esta a minha primeira impressão sobre esta gente.
E aparentemente tão errada, ou por outras palavras, tão incompleta...
É que nunca conheci povo tão tímido, conservador, receoso nas demostrações de sentimentos...
Nunca pensei que por detrás desta máscara de vivacidade se escondesse uma quantidade tão grande de gente com receio de se expôr.
Em Trinidad não se dança... Ou melhor, dança-se muito, mas apenas se se fôr Venezuelano.
Só quando passa soca, sobretudo se for um dos temas do carnaval, é que se vê um trini a mexer, mas nenhum ousa dançar com um par (excepção para o "wine"...)
Um trini sozinho é capaz de cantar, mas jamais o fará em grupo. Poderá dançar, mas sempre numa atitude individual, para chamar à atenção. Jamais o fará como parte de um grupo.
Este comportamento estende-se às vezes até ao nível do absurdo. Quando um homem quer conquistar uma mulher é capaz de a seguir interminavelmente, e recorre a tudo o que lhe estiver ao alcance para a atrair. Contudo homens e mulheres não se misturam. Mais estranho ainda, não querem misturar-se...
Formam grupos distintos, e só saem juntos se se tratarem de casais amigos.
A mim lembram-me um pouco o espírito dos filmes americanos dos anos 50 em que grupos de rapazes e raparigas se provocam mas sempre à distância, protegidos pelo segurança dos amigos. Mesmo numa discoteca é fácil compreender esta separação nos movimentos das pessoas, nos grupos que se criam...
Ontem Trinidad jogou para o campeonato do mundo naquele que terá sido o jogo mais importante da qualificação. Trinidad tinha que ganhar para ter acesso a uma pré-eliminatória.
Trinidad tem uma péssima equipa de futebol, cheia de "acrobatas" incapazes de jogar juntos. Quando jogam exemplifcam cenicamente na perfeição esta imagem de protagonismo individual e incapacidade de vivência em grupo.
Trinidad enfrentava o México, uma das equipas mais fortes do grupo.
O estádio encheu, pela primeira vez, e os que não conseguiram bilhetes juntaram-se em bares e cafés. Nós seguimos o jogo num bar, o Trotters.
As expectativas eram baixas mas o jogo foi fabuloso. E contudo, tirando a mancha vermelha pelas ruas, era muito complicado perceber o que se estava a passar...
Durante o jogo houve apenas duas reacções, jogar as mãos à cabeça, ou aplaudir uma boa jogada (ou golo). Mas nos tempos mortos nada mais. O receio da exposição perante gente desconhecida inibe qualquer trini, que parece só sentir-se confortável no meio de um grupo de amigos. Ninguém gritou, uma única vez pela equipa... para motivar. Ninguém aplaudiu ou assobiou o árbito, ou os jogadores durante o jogo. ninguém bateu com os punhos na mesa, ninguém reagiu. Poderiam ser nervos do jogo... mas depois acabou e o único carro a apitar nas ruas era...
o nosso...
Alguns trinis acenavam-nos, mas gritar... juntar-se ao barulho... nem um.
Nos bares e nas ruas bebia-se, conversava-se. Mas apenas o vermelho das t-shirts recordava um jogo que promete agora a qualificação para o mundial. Qualquer semelhança com o que se passou no euro e que assisti em Lisboa advém apenas da cor da roupa, uniforme. Pensei que não dormiria nessa noite, mas tirando o helicópero da polícia, o silêncio foi constante.
Porque dentro do seu grupo cada trini é um herói...
Porque exposto a caras novas nenhum ousa demonstrar o que sente.
E contudo Trinidad ganhou.
Ganhou por 2-1, e pode pela primeira vez sonhar chegar a um mundial de futebol.
E os trinis sonham... mas não o mostram... jamais.
3 Comentários:
Ena ena!
Espero que calhem no nosso grupo... :-D
Abraço!
até para mim, que no pouco tempo que aí estive os observei, é difícil entender esse cenário.
beijos - mãe
"Porque dentro do seu grupo, cada Trini é um heroi"....
Será assim tão invulgar, encontar este tipo de comportamento sem ser num Trini?
Beijos
Eli
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