terça-feira, setembro 20, 2005

Mayaro

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Mayaro é pobre.

Mayaro é silêncio e solidão.

Isolado de tudo, Mayaro só pode ser o fim do mundo. E no entanto é belo.

É fácil chegar a Mayaro, mas leva tempo. Pelo menos duas horas e meia de caminho para fazer cerca de 70km.

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Fica no extremo Sul-Nascente da ilha, longe de tudo, longe do próprio país. Em Mayaro só se encontra quem lá vive ou quem vai de férias. É uma relação estranha a que as pessoas têm com esta região. Mayaro é o ideal de repouso e paraíso em Trinidad. Diferente de Tobago, a ilha IN de Trinidad, Mayaro é uma zona de recolhimento. Vai para lá quem quer fugir da agitação do dia a dia, quem quer estar só e em sossego.

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Em Mayaro quem lá vive é muito pobre. Não há muitas casas, apenas barracas, construções muito precárias que afligem. As pessoas sobrevivem apenas. Fazem pequenos trabalhos, vivem em comunidades.
Não se queixam. Aprenderam a viver assim, na maioria dos casos pouco mais conhecem. Fazem um pouco de tudo, caçam, pescam, fazem música. Conhecem bem a floresta e o mar.
Aqui a violência silenciosa é muita. O alcóol e as drogas são escapes que destroem famílias inteiras. A violência doméstica é regra, os instintos de sobrevivência quase primitivos.
Recebem muito bem as pessoas de fora, mas é fácil perceber as tensões dentro da comunidade e ouvir dizer mal de alguém.

Foi lá que passámos o fim de semana, em cabanas que se alugam e que divergem em todos os aspectos da imagem corrente que temos do turismo.
A nossa casa tinha uma estrutura de madeira que se elevava a 60 cm do chão e que era feita com pequenos troncos escolhidos judiciosamente. As paredes (apenas exteriores) eram de tábuas com muitas venezianas, e o tecto em folhas de palmeira.
As condições eram as básicas, mas sabia que seria assim antes de ir.
O calor foi muito, pois Mayaro é a zona mais quente da ilha, mas a sombra e a ventilação da cabana eram suficientes para nos sentirmos bem dentro dela.
o "problema" era lidar com os nossos "vizinhos", isto é, as tarântulas, as formigas de guerra e os mosquitos.

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Pois é isso mesmo. Mosquitos já é hábito, mas aqui eram às centenas em tudo o que é sombra, sendo a única solução a rede mosquiteira (objecto obrigatório em Trinidad) e os repelentes.

Quanto às tarântulas (sim aquelas aranhas peludas do tamanho de uma mão) só nos restava ignorá-las. Vizinhos indelicados passeiam-se o dia todo no tecto sem pedir qualquer autorização. Contudo a "timidez" impede-as de se aproximarem das pessoas e em pouco tempo aprendemos a ignorá-las também (claro que convém sempre espreitar antes de pôr a mão em algum sítio mais escondido como uma tigela que não esteja à altura do nosso olhar...).

E para fazer inveja ao National Geographic, claro que tivemos uma invasão de "War Ants", aquelas formigas simpáticas que vemos nos documentários sobre África que se espalham por todo o lado e limpam tudo!
Acabámos de almoçar e vemos formigas na terra a aproximarem-se da cabana. A Leen explicou logo o que eram e descansou-nos dizendo que nunca sobem para a cabana...

mas em 10 minutos subiram...

Nunca tinha visto nada assim. Não avançam em carreiro, espalham-se antes pelas superfícies que atravessam. em menos de 15 minutos toda a casa estava pejada destes bichos de 1cm. Só tivemos tempo de meter a comida toda dentro de uma tenda de campismo, sair... e esperar que elas fossem embora.
É que mordem mesmo com força e fica a doer durante horas.
Correram o chão todo, as paredes, os tectos. Duvido que algum insecto tenha sobrevivido. Vi-as apanhar e matar uma barata em menos de 5 segundos... Nunca pensei que uma barata pudesse correr tão depressa, tal era o susto :)

Em menos de uma hora viram a casa toda e foram embora...

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Aproveitámos para ir à praia. Aqui o mar é mais bravo que na costa alentejana, mas a água mais quente que o ar. Tomar banho, só com água pela cintura, pois é vulgar morrer gente arrastada pelas correntes.
A praia é muito bonita. Tem uma extensão de 16kms e estava completamente vazia. Atrás fica a barreira impenetrável de palmeiras, no horizonte as estações de extracção de petróleo. Antes de regressarmos apanhámos Chip Chips, a versão trini de conquilhas que fizemos no dia a seguir ao almoço :)

A noite passámo-la em frente a uma fogueira a assar entrecosto e frango. Um amigo já conhecido da Leen e do Jannes, o Noel (chamado assim por ter nascido a 25 de Dezembro) apareceu com o seu "quatro" (uma pequena guitarra de quatro cordas) e uma harmónica. Somem o Rum, as cervejas e o vinho e deixo o resto à vossa imaginação :)

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Regressámos no dia a seguir, ao anoitecer. A noite era de lua cheia e as pessoas encontravam-se todas na estrada a apanhar caranguejos. Estes são aos milhares e só não os agarra quem não quiser. Conduzir durante este período é uma prova de perícia. Não só há que evitar os caranguejos, como as pessoas de lanternas e sacos na mão (às centenas) e os carros que travam sem qualquer sinal, apenas porque um destes crustáceos se encontra mesmo à mão.

8 Comentários:

Blogger Maria Zezinha disse...

TARANTULAS????? FORMIGAS???? MOSQUITOS???? E dizes tu que é para descansar?!!!... eu acho que fugia a sete ou mm oito pés e só parava em casa!!!:(
Bom mas eu... sou eu e tu mais pareces um daqueles portugueses que foram á procura de outros mundos.... livra!!!!
O que vale é q parece que, tirando a miséria que deve ser atroz, gostaste do fim de semana. e nós gostamos sempre de te "ler" e ver essas magníficas fotografias!!! continua e beijos dos tios.

21/9/05 07:34  
Blogger JoaoN disse...

A foto da tarântula fez-me lembrar aquele filme do 007 que se passa algures nos trópicos, e em que o Jaime encontra uma delas na própria cama. :-P

Só espero que a Bo Derek tenha saído da água em bikini ao amanhecer, como no filme... :-)))

Um abraço, adorei o post!

21/9/05 08:14  
Blogger InêsN disse...

é incrível a "bagagem" que vais trazer dessa estadia...
:o)
beijinhos!

21/9/05 08:58  
Anonymous Anónimo disse...

Muito bom, muito bom mesmo Pedro. Gostei do teu blog. E já agora, também vivi um ano fora do país, Londres, e também eu nunca me senti imigrante, antes pelo contrário, senti-me mais portuguesa do que nunca. O tejo passou a ser meu amante, e Lisboa a minha segunda mãe ;)

21/9/05 18:01  
Anonymous Anónimo disse...

Por acaso passou pela tua cabeça como ficariam as "pernitas" da tua mãe com a centena de mosquitos de que falas?
É ... que... bem deves-te lembrar como ficaram mesmo só com meia dezena!!!!
Gostei muito de ver as fotografias. Para a próxima quero fazer esse passeio nem que seja camuflada.
bjocas.

21/9/05 19:37  
Anonymous Anónimo disse...

Hooooombre, q aventura!!!
(Mas pelo menos sem as tarãntulas e as formigas passava bem... :-// )

Bjcs
Céu

21/9/05 21:04  
Blogger inês s. disse...

O que faz um português em Port of Spain (que só conheço dos livros do Naipaul)?

22/9/05 19:17  
Anonymous Anónimo disse...

As praias são lindas ,agora as tarântulas....é que me fazem impressão.Era incapaz de dormir um minuto que fosse.Vejo que continuas a aproveitar bem os recantos desse país.fico feliz com isso!...Bjs tia fernanda

4/10/05 19:52  

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