Mayaro

Mayaro é pobre.
Mayaro é silêncio e solidão.
Isolado de tudo, Mayaro só pode ser o fim do mundo. E no entanto é belo.
É fácil chegar a Mayaro, mas leva tempo. Pelo menos duas horas e meia de caminho para fazer cerca de 70km.

Fica no extremo Sul-Nascente da ilha, longe de tudo, longe do próprio país. Em Mayaro só se encontra quem lá vive ou quem vai de férias. É uma relação estranha a que as pessoas têm com esta região. Mayaro é o ideal de repouso e paraíso em Trinidad. Diferente de Tobago, a ilha IN de Trinidad, Mayaro é uma zona de recolhimento. Vai para lá quem quer fugir da agitação do dia a dia, quem quer estar só e em sossego.

Em Mayaro quem lá vive é muito pobre. Não há muitas casas, apenas barracas, construções muito precárias que afligem. As pessoas sobrevivem apenas. Fazem pequenos trabalhos, vivem em comunidades.
Não se queixam. Aprenderam a viver assim, na maioria dos casos pouco mais conhecem. Fazem um pouco de tudo, caçam, pescam, fazem música. Conhecem bem a floresta e o mar.
Aqui a violência silenciosa é muita. O alcóol e as drogas são escapes que destroem famílias inteiras. A violência doméstica é regra, os instintos de sobrevivência quase primitivos.
Recebem muito bem as pessoas de fora, mas é fácil perceber as tensões dentro da comunidade e ouvir dizer mal de alguém.
Foi lá que passámos o fim de semana, em cabanas que se alugam e que divergem em todos os aspectos da imagem corrente que temos do turismo.
A nossa casa tinha uma estrutura de madeira que se elevava a 60 cm do chão e que era feita com pequenos troncos escolhidos judiciosamente. As paredes (apenas exteriores) eram de tábuas com muitas venezianas, e o tecto em folhas de palmeira.
As condições eram as básicas, mas sabia que seria assim antes de ir.
O calor foi muito, pois Mayaro é a zona mais quente da ilha, mas a sombra e a ventilação da cabana eram suficientes para nos sentirmos bem dentro dela.
o "problema" era lidar com os nossos "vizinhos", isto é, as tarântulas, as formigas de guerra e os mosquitos.



Pois é isso mesmo. Mosquitos já é hábito, mas aqui eram às centenas em tudo o que é sombra, sendo a única solução a rede mosquiteira (objecto obrigatório em Trinidad) e os repelentes.
Quanto às tarântulas (sim aquelas aranhas peludas do tamanho de uma mão) só nos restava ignorá-las. Vizinhos indelicados passeiam-se o dia todo no tecto sem pedir qualquer autorização. Contudo a "timidez" impede-as de se aproximarem das pessoas e em pouco tempo aprendemos a ignorá-las também (claro que convém sempre espreitar antes de pôr a mão em algum sítio mais escondido como uma tigela que não esteja à altura do nosso olhar...).
E para fazer inveja ao National Geographic, claro que tivemos uma invasão de "War Ants", aquelas formigas simpáticas que vemos nos documentários sobre África que se espalham por todo o lado e limpam tudo!
Acabámos de almoçar e vemos formigas na terra a aproximarem-se da cabana. A Leen explicou logo o que eram e descansou-nos dizendo que nunca sobem para a cabana...
mas em 10 minutos subiram...
Nunca tinha visto nada assim. Não avançam em carreiro, espalham-se antes pelas superfícies que atravessam. em menos de 15 minutos toda a casa estava pejada destes bichos de 1cm. Só tivemos tempo de meter a comida toda dentro de uma tenda de campismo, sair... e esperar que elas fossem embora.
É que mordem mesmo com força e fica a doer durante horas.
Correram o chão todo, as paredes, os tectos. Duvido que algum insecto tenha sobrevivido. Vi-as apanhar e matar uma barata em menos de 5 segundos... Nunca pensei que uma barata pudesse correr tão depressa, tal era o susto :)
Em menos de uma hora viram a casa toda e foram embora...


Aproveitámos para ir à praia. Aqui o mar é mais bravo que na costa alentejana, mas a água mais quente que o ar. Tomar banho, só com água pela cintura, pois é vulgar morrer gente arrastada pelas correntes.
A praia é muito bonita. Tem uma extensão de 16kms e estava completamente vazia. Atrás fica a barreira impenetrável de palmeiras, no horizonte as estações de extracção de petróleo. Antes de regressarmos apanhámos Chip Chips, a versão trini de conquilhas que fizemos no dia a seguir ao almoço :)
A noite passámo-la em frente a uma fogueira a assar entrecosto e frango. Um amigo já conhecido da Leen e do Jannes, o Noel (chamado assim por ter nascido a 25 de Dezembro) apareceu com o seu "quatro" (uma pequena guitarra de quatro cordas) e uma harmónica. Somem o Rum, as cervejas e o vinho e deixo o resto à vossa imaginação :)




Regressámos no dia a seguir, ao anoitecer. A noite era de lua cheia e as pessoas encontravam-se todas na estrada a apanhar caranguejos. Estes são aos milhares e só não os agarra quem não quiser. Conduzir durante este período é uma prova de perícia. Não só há que evitar os caranguejos, como as pessoas de lanternas e sacos na mão (às centenas) e os carros que travam sem qualquer sinal, apenas porque um destes crustáceos se encontra mesmo à mão.
8 Comentários:
TARANTULAS????? FORMIGAS???? MOSQUITOS???? E dizes tu que é para descansar?!!!... eu acho que fugia a sete ou mm oito pés e só parava em casa!!!:(
Bom mas eu... sou eu e tu mais pareces um daqueles portugueses que foram á procura de outros mundos.... livra!!!!
O que vale é q parece que, tirando a miséria que deve ser atroz, gostaste do fim de semana. e nós gostamos sempre de te "ler" e ver essas magníficas fotografias!!! continua e beijos dos tios.
A foto da tarântula fez-me lembrar aquele filme do 007 que se passa algures nos trópicos, e em que o Jaime encontra uma delas na própria cama. :-P
Só espero que a Bo Derek tenha saído da água em bikini ao amanhecer, como no filme... :-)))
Um abraço, adorei o post!
é incrível a "bagagem" que vais trazer dessa estadia...
:o)
beijinhos!
Muito bom, muito bom mesmo Pedro. Gostei do teu blog. E já agora, também vivi um ano fora do país, Londres, e também eu nunca me senti imigrante, antes pelo contrário, senti-me mais portuguesa do que nunca. O tejo passou a ser meu amante, e Lisboa a minha segunda mãe ;)
Por acaso passou pela tua cabeça como ficariam as "pernitas" da tua mãe com a centena de mosquitos de que falas?
É ... que... bem deves-te lembrar como ficaram mesmo só com meia dezena!!!!
Gostei muito de ver as fotografias. Para a próxima quero fazer esse passeio nem que seja camuflada.
bjocas.
Hooooombre, q aventura!!!
(Mas pelo menos sem as tarãntulas e as formigas passava bem... :-// )
Bjcs
Céu
O que faz um português em Port of Spain (que só conheço dos livros do Naipaul)?
As praias são lindas ,agora as tarântulas....é que me fazem impressão.Era incapaz de dormir um minuto que fosse.Vejo que continuas a aproveitar bem os recantos desse país.fico feliz com isso!...Bjs tia fernanda
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