quinta-feira, maio 19, 2005

Sons

Na minha casa o silêncio é rasgado continuamente pelos mais inimagináveis sons... De tal modo são pontuais, que quase poderia dizer que tenho um relógio natural.

Começam às 6h00. É a agitação da manhã que parece atacar todos os pássaros. Durante duas horas cantam, interminavelmente, numa luta de palavras que parece terminar apenas quando o sol já vai alto. Depois sossegam... mas calados nunca ficam...

Tenho uma "mangueira" no jardim (a árvore...) que lhes serve de poiso. Os ramos estendem-se até às janelas, e é frequente tê-los a "espreitar" cá para dentro.
Gostam de voar rente aos muros, e parar no tanque da água. São vizinhos agitados, mas gosto de os ter por aqui.

O dia, costuma ser mais sossegado. Falo apenas dos fim-de-semana, e sem grande conhecimento de causo, pois raramente aqui me encontro. Durante a semana o ruído do trânsito não admite concorrência. Felizmente trabalho a essa hora.

Quando chego, ao fim da tarde, e com o sol a pôr-se, chegam os papagaios. Verdes, e com o bico amarelo, voam sempre aos pares num jogo que dura todo o fim da tarde. Voam baixo. São desajeitados no bater das asas, mas muito ágeis e rápidos. Fazem mais barulho que todos os outros pássaros juntos. Parece que gritam, que discutem. Ou divertem-se apenas. Lembro-me quando os vi pela primeira vez... nem queria acreditar.
Depois foram os pelicanos, a mergulhar no mar para apanhar o peixe (mas estes não os tenho em casa....)

A noite, essa é dos cães. E estes sim, conseguem ser verdadeiramente insuportáveis... Não gostam de gente nas ruas. Melhor dizendo, não gostam de gente frente aos portões. E a cada passagem, há sempre um ladrar. Por outro lado parece que não gostam de ladrar sozinhos, e quando um começa, logo todos os do bairro se juntam, numa sinfonia que dura sempre, pelo menos 15min...

Felizmente que até os cães dormem, e estes deitam-se cedo, por volta das 00h00

Depois, acompanha-me durante a noite o ruído da água... um depósito a funcionar mal que o meu vizinho deixa a correr todas a noites. Mas deste gosto. A água a escorrer num fio, é sempre uma boa companhia.

E como numa orquestra, outros instrumentos se juntam ao longo do dia. As marimbas tocam sempre ao fim da tarde, ensaiando para os próximos concursos de steelpans e para o Carnaval, variando entre a mais doce melodia e o mais agressivo dos improvisos.

E a acompanhar, sobretudo depois do jantar, vagabundos, loucos, que gritam pelas ruas, num lamento de desespero e alucinação total...

Trinidad, país de contrastes, até nos sons...

4 Comentários:

Blogger DoCeu disse...

Bem, estás (és!) um cronista de se lhe tirar o chapéu!
Já agora o q são steelpans, panelas metálicas?!!!

Bjcs

22/5/05 18:02  
Blogger Pedro disse...

Steelpans são as orquestras que tocam "Pans". Bidões de gasolina transformados em instrumentos de percussão capazes de tirar várias notas diferentes. Ensaiam no que chamam panyards. O da minha rua é o dos Invaders, "nome de guerra" que usam o ano todo. Em Portugal chamamos-lhes marimbas.

22/5/05 18:19  
Blogger JoaoN disse...

Por acaso! Isto é que é escrever, rapaz!!! :-)

22/5/05 18:33  
Anonymous Anónimo disse...

Tia Fernanda
Não precisas de despertador já estou a ver.O que eu gostava de ver os papagaios!Manda fotografias.Já agora,começa a pensar em publicar as tuas notas,porque estão muito bem escritas e são muito reais.Colocam-nos dentro da cena e faz-nos "ver" Trinidad.Bjs

13/6/05 17:30  

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