Gargas Tropical

sábado, julho 29, 2006

Novamente em Trinidad II

Vamos lá a ver se eu consigo com frases curtas descrever todas as situações fazendo-me entender:


No dia 27 o Bernard fez 60 anos – pensava que era um pouco mais novo (tipo... 57/58). Como sempre que há aniversários, haveria festejo no atelier. A comemoração compõe-se normalmente de um bolo enorme (que encomendam não sei onde) e de gelado. Resolvi fazer um arroz doce que mandei pelo Pedro de manhã. Foi difícil cozer esta “gramínia”, pois como já sabem tudo aqui é diferente. Mas lá seguiu.


Este ano a meteorologia tem sido diferente. Todos os dias chove perto da hora de almoço e por vezes estende-se pela tarde. Mas quando digo “chove”, refiro-me a verdadeiros baldes de água despejados ao mesmo tempo durante um tempo considerável. Não entendi ainda como é que há tanta água lá em cima. Queria ir dar os parabéns ao Bernard e não parava de chover. Eram 16.30 e parou. Aí vou eu a caminho com um presente que nos deu algum trabalho a realizar. Era assim: uma garrafa de vinho do Porto (vintage) na respectiva embalagem. Comprei papel branco, vermelho e preto. Embrulhei a embalagem no vermelho. Depois com a ajuda do Pedro, em cada face colámos tiras pretas e brancas, a imitarem a bandeira de Trinidad. Não satisfeita coloquei tudo isto num papel muito piroso (transparente com corações debroados a rosas onde dentro dos mesmos estava escrito Happy Birthday). Depois uma fitinha vermelha a atar o respectivo saco. E aí vou – top bem fresco, saia curta e sombrinha. Já ninguém me esperava e entro eu: “ Happy Birthday Bernard. Here you have a kitch gift”. Gargalha geral e tudo à espera do que era .”Ah! portuguese wine!!”


Dia 28

Quando se chega ao #167 da Tragarete Road temos um portão comprido que está fechado a cadeado. Sai-se do carro, abre-se o portão e coloca-se o carro naquele espaço de garagem. Fecha-se novamente o portão. Quando há visitas é normalmente o visitante que faz este trabalho, percebe-se porquê, assim o espero. Só depois se sobe a escada para entrar na casa do Pedro.

Imaginemos a viagem contrária: sair da casa para o portão pensando ir dar um passeio. O Pedro já no trabalho. E que vejo eu?

Um carro diferente estacionado no lugar destinado ao do meu filho e... o cadeado aberto.


Como já disse anteriormente a casa ao lado foi derrubada, o que tornou a antiga privacidade do “nosso” quintal quase num jardim público até que o prédio com 3 andares cresça o suficiente e impeça esta passagem. Os pedreiros encostam-se ao muro, chamam-nos, vêm ver o que se passa comem goiabas (acho que raramente). Os vagabundos também as roubam, como já informei.

Chegada ao local do portão perguntei aos “ditos cujos” se o carro era deles. Juntaram-se logo todos a dizer que não. Uma grande conversa, eles meio a rirem, eu sem entender peva do que diziam – sabem a tal linguagem indecifrável. Tanta foi a conversa, que DENTRO do quintal apareceu atrás de mim um negro matulão. Tentei percebê-lo e explicar que não sabia o que fazia ali o carro e que tinha de o tirar.

Já muito zangada fiz o que o Pedro me tinha dito: Como não percebia a arrazoada do preto, pus-me a falar em português. E ele chateado disse-me “You know my name?” “No!” e ... resolvi telefonar ao Pedro para ele vir resolver a situação. Eu não os entendia e as coisas estavam a tomar um ar menos agradável.

Entretanto o matulão, muito arreliado pediu-me que o seguisse (por dentro do nosso espaço, não sei se estou a conseguir explicar tudo bem) e com aquele tamanhão todo chamou: “mammy!” “mammy”.

O Pedro chega. E quem era a “mammy”? Nada mais que a senhora que faz a limpeza no rés-do-chão (porque a dona do mesmo vive em Londres), tem chave do cadeado e costuma vir aqui de 2 em 2 meses dar uma arrumação. E o carro era da senhora.



Como temos que ir arrumar as coisas para ir para Grand Riviere, ver as tartarugas e só voltamos domingo à noite, continuarei depois esta minha reportagem.

Adeus.

terça-feira, julho 25, 2006

Novamente em Trinidad

Eu sei, eu sei! Já devia ter dado notícias! Mas a principal responsável é a minha patroa, a “Lurditas”. Trabalhei tanto que depois de 23 horas entre a Estrada da Luz e Tragarete Road, a minha vontade foi apenas dormir.

Tentarei reconstituir os dias: Sábado de manhã fui com o Pedro até à Downtown para conhecer os novos colegas dele – a Maryann (venezuelana) e o Diogo (português). Estavam acompanhados de mais duas arquitectas – que trabalham noutro atelier – uma polaca e outra indiana (as duas com contrato por 3 meses). De regresso a casa comemos a tarte que ele tinha feito para o nosso jantar do dia anterior. Tarte de espinafres e cogumelos que estava muito boa.

À tarde passeámos por aqui perto, pois o jet leg ainda resistia. Domingo voltámos a Chaguaramas e visitámos o mosteiro de S. Benedito no Mount Hope e que eu não conhecia. Uma igreja católica com figuras de Maria e Stº António, mas claro com os nomes em inglês. À tarde ... praia e banho em Maracas – muito bom!!!! Jantámos na marina, como os turistas que lá estão nos yates.

Segunda-feira fiz uma de dona de casa nas coisas pequenas, pois há a referir que a casa estava um mimo. Almoço à maneira, em casa. Quando o Pedro voltou do trabalho fomos ao super comprar umas coisitas. Vimos o Match Point (em computador) e jantámos: sopa que ele tinha feito e bacalhau à Gomes de Sá.

E provavelmente é aqui que a história começa. Com dois pães na mochila que trazia às costas e um queijo flamengo fiz o check in no aeroporto, onde o senhor que me pesou a bagagem achou estranho eu viajar sozinha para Trinidad. Lá expliquei mais uma vez a história do costume. Disse-me que era engenheiro informático mas estava ali a trabalhar porque não encontrara outro trabalho. Perguntou-me (depois de ter achado que eu tinha muita sorte em vir para as Caraíbas) se trazia azeite ou aguardente, ao que respondi que não; apenas uma garrafa de vinho do Porto.. e não continuei porque ele achou que tudo estaria bem. Passei. Assim como a mala onde apenas iam duas garrafas de vinho tinto e uma de Porto, para além de um bacalhau inteiro. Verdadeira mala de emigrante. Sem poder ter mais peso, pois caso contrário mais coisas traria.

E perguntam vocês: ”Um bacalhau inteiro?” “Como o levaste.” Ora bem, a receita é a seguinte: parte-se o bacalhau em postas pequenas (mais ou menos metade das nossas postas) e cautelosamente, sem espaços, colocam-se num tupperware. Tapa-se com a tampa da vasilha. Depois coloca-se dentro de um saco de pano, juntamente com as sandálias. De seguida esperam-se quase 23 horas até Port of Spain e pede-se aos deuses locais que na alfândega não nos mandem abrir a mala.

Quando cheguei a Trinidad, na alfândega a senhora que estava no guichet perguntou-me com ar de espanto se eu vinha visitar um filho. Era o que tinha posto no papel que preenchemos no avião. Confirmei e, claro expliquei o que ele fazia. Emocionada deixou-me passar, carimbou o passaporte e o bacalhau chegou ao seu destino.

Se até aqui os resultados forem positivos (que foi o caso) basta depois pôr de molho e cozinhar como melhor nos apetecer. Calhou ser à Gomes de Sá, poderia ter sido doutra forma – mas como há muito no frigorífico, claro que outras receitas iremos experimentar.

Partida de Lisboa com uma hora de atraso e partida de Caracas com 3 horas de atraso, num aeroporto que é um corredor e em que o “atraso” também é a dominante.

O tempo em relação ao ano anterior: parece-me menos calor, mas muita humidade. Talvez mais chuvoso, pois hoje saí de sombrinha (não pelo sol) porque havia uma chuvinha de molha muitos parvos e de mocassins. Achei que era melhor para não molhar os pés. Logo que a chuvinha parou secou tudo, até a sombrinha dentro do meu saco de pano.

Fotografei os murais da escola que o Pedro visitou – a dos deficientes motores.

Vim por St. James e comprei fruta – mangas pequeninas e bananas. Quando cheguei a casa pingava – de transpiração – por todos os lados. Fiquei em “biquini” a cozinhar almoço português acompanhado de um vinhito alentejano (Conventual) e fiz bolo de yogurte. O Pedro almoçou que nem um abade.

Junto à casa dele demoliram uma casita e estão a fazer “uma coisa” que deve ser construção grande – é moda – este ano há várias. Os trinis conseguem trabalhar na obra menos tempo do que eu em casa e ontem, dois deles invadiram o quintal e com um pau varejaram a goiabeira e levaram as goiabas. Bem quis dizer que não, mas é impossível entendê-los e fazem uma cara de súplica que lá deixei. O Pedro já andava desconfiado que eles roubavam as goiabas, pois as maduras desapareciam da noite para o dia seguinte.

A casa do meu filho começa a ter muita marca das coisas de que ele gosta e está muito mais compostinha.

Temos falado muito, como dois bons amigos. Claro que a falta da Leen e do Jannes sente-se muito. Mas... paciência. Vão escrevendo e dando notícias.

Ainda não vi o Bernard. Penso visitá-lo amanhã.

É tudo um pouco diferente – não há surpresas para mim. Parece que estive aqui há dois ou três meses e sei perfeitamente onde e quando posso ir. Já não há pressa em conhecer, mas sim em registar com mais cuidado, pois penso que já não voltarei a Trinidad. Nota-se uma mudança impressionante no parque automóvel. Para melhor. Diz o Pedro que o carro para eles é mais importante que a casa.

Prometo ir dando notícias. As engraçadas costumam ser as da Downtown quando ando sozinha, o que acontecerá também amanhã.


Beijos a todos.

domingo, julho 02, 2006

partidas e chegadas

Escrevo

procurando encontrar nas palavras libertação
compreensão de dias intensos


Escrevo. Exorcizando em mim dúvidas imensas
e desconhecendo por completo onde me levarão as palavras

...

Estiveste cá. Sonho feito realidade.
E da tua companhia ficam momentos únicos. Marcas que permanecerão sempre.

Passeámos. Grand Riviere, Tobago, Chaguaramas. Fomos a lugares já tão conhecidos de mim, percorrendo sem tempo a ilha. Parando sem pressa de chegar. E vivendo apenas os dias que partilhámos.

Partiste.

E de novo.. sempre
depois de uma visita
este vazio

Partiste. E parece que aconteceu tudo há tanto tempo. Na vertigem do tempo pouco espaço resta para te segurar, e fica agora apenas uma recordação boa de dias intensos.

Aconteceram mesmo?

Outra vez...

Sinto-me espectador de um mundo ao qual “deixei” de pertencer. Mundo que toco apenas através destas companhias esporádicas.
Mundo que se esvanece tão depressa. Tão rápido como chegou.

A sensação de viver dias irreais enquanto permaneço ausente do meu “mundo”.
Companhias boas que existem apenas em momentos tão curtos.

...

Outras partidas agora.
Outras chegadas.

8 dias mais e partem a Leen e o Jannes.

No olhar de todos imensas saudades de algo q ainda não sucedeu, mas que é já passado em cada um . Sabemos que um dia deixaremos Trinidad. Mas parece que apenas a marcação da data torna a partida definitiva, e a proximidade do dia muda por completo a percepção de tudo.

Leen e Jannes.

Dois amigos belgas que me mostraram a ilha e me fizeram sentir em casa. Sempre. Conhecedores de tanto do que aqui aprendi e vi.

São eles agora os turistas.
De partida amanhã para Tobago. Gent para semana...
São eles agora que partem.

Fico.
Eu.

Agora o mais “antigo” no atelier. Sentindo que “nada” sei sobre este país... E com tudo para ensinar a quem chega.
À Maryann, já com duas semanas de Trinidad. O Diogo que apanho amanhã no aeroporto :)

Pelo caminho ficam as muitas festas a tentar segurar os últimos minutos.

O futebol é motivo de encontro e momento para descontrair. E como me queixar depois destes resultados tão “simpáticos” que temos tido :)

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Mas também se fazem outros passeios.

O Bernard “ofereceu-nos” a casa da ilha no fim de semana anterior.
Estivemos lá todos, como se em férias. Tempo bom e água transparente.
Tempo sobretudo para partilharmos de novo companhias e falar de Trinidad.

Da Ida. De quem fica.

Souberam bem aqueles dois dias longe de Port of Spain. Acordar com o mar a olhar para mim e parar na varanda antes do pequeno almoço.

Aproveitámos para ver as grutas de Gasparee (nome da ilha).
Lindas

Uma descida de alguns degraus, não muitos, mas altos, para nos enterrarmos nas profundezas da montanha.
Por entre formações de rochas a lembrar todo o tipo de imagens surgiam manchas de cor, resultado do uso de filtros coloridos nos projectores. E no fundo, uma piscina natural com água intensamente verde e azul. A luz do sol caída sobre uma abertura no tecto, autêntica cúpula natural, descendo sobre a água.

Um brilho mágico.

E a água :)

quente!

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Esta sexta foi a festa de despedida. Oferecida pelo Bernard em casa dele. Tanta gente... cinquenta talvez...
Entre amigos, atelier, colaboradores. As pessoas foram chegando numa noite que durou até tarde. Foi o adeus final a Trinidad enquanto lugar de trabalho. Agora estão de férias e em breve longe.

Recordações enormes, e a certeza de ter “lugar de férias” quando regressar também :)

Agora partem, sem saberem muito bem o que os espera, e com a tristeza (porque também a levam apesar da vontade do regresso a casa) de largarem um lugar que foi muito para eles também.

Fica a sensação de portas que se fecham devagar. Partidas e mudanças imensas nas nossas vidas, capítulos antigos que terminam, abrindo agora lugar a outros dias...

Diferentes de certeza.

Como... não sei ainda...


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