Gargas Tropical

domingo, setembro 25, 2005

seguraça e spam...

Pois... não me apetecia fazer isto, pois já sei que é mais um passo a dar para todos os que queiram comentar alguma coisa.
O problema é que estou a ser "invadido" de spam (neste caso comentários não solicitados a oferecerem-me dinheiro, a pedir para visitar sites... etc...) cada vez que coloco aqui qualquer coisa nova...
Portanto a partir de agora cada vez que quiserem comentar vai-vos aparecer uma imagem com letras e números em baixo do lado direito. É um código aleatório, tipo acesso multibanco: "por favor insira o seu código pessoal", que têm que copiar para onde diz "word verification" :(
desculpem... mas estou farto de apagar "lixo"

QUERO Sol!!!!!!

Chove,
Chove,
Chove... :(

Tem sido assim o fim de semana todo, e contrariando o habitual, a chuva caiu o dia todo ultrapassando os limites da decência (isto é a hora de almoço e pouco mais)

Pouca coisa se pode fazer em Trinidad quando chove. A maioria das actividades são feitas ao ar livre. Mesmo uma boa "lime" é passada na rua, pois não existem bares com mesas e cadeiras. O conceito tão querido de um café, com mesas, bolos, etc... é uma invenção decididamente europeia que nunca chegou a tocar este ponto escondido das caraíbas. A ausência do turismo também não parece aliciar a novas formas de estar, de convívio, novos espaços que possam fugir minimamente do convencional.

Por vezes vou ao cinema, mas as escolhas não costumam ser muito amplas, e sobretudo nada aliciadoras. Aqui Hollywood manda, e cinema independente tem na melhor das hipóteses meia dúzia de estrangeiros a assistir à película.

Fiquei então em casa, aproveitando para me dedicar a todas aquelas tarefas que procuro esquecer que têm que ser feitas, como engomar, limpar, etc, etc... Confesso que dá prazer quando tuo fica feito, mas primeiro que se ganhe a vontade....
Ui, primeiro levanto-me, espreito o jardim... está a chover. Vou para dentro, espreito a janela. olho para o "desastre" e penso: "é desta, tem que ser...", mas não é logo... demora. Julgo que é o que dar morar sozinho e não ter que mostrar a casa arrumada :)
Enfim... depois de muita luta psicológica para largar o livro lá consegui fazer alguma coisa.

Entretanto vou ouvindo a chuva a cair, que hoje substituiu qualquer canto de pássaro. Nem sequer os papagaios voaram ao fim da tarde :(
Apareceu-me uma gata em casa. Escorraçada da chuva sentou-se nas escadas protegida. De vez em quando aparece por aqui. Vem magra e a miar, sempre à procura de comida que teimo em não dar... Não me apetece ficar agarrado a um gato. O certo é que ela continua a passar, sempre muito meiga, com aquele olhar misterioso e hipnotizante que sempre têm...

Foi um dia muito sossegado, depois de uma semana a avaliar curriculos e a escolher candidatos para um ano nas caraíbas :)
É estranha a sensação de estar a decidir o destino das pessoas. Bem sei que a decisão final é sempre delas, mas ter que decidir a favor de um nome, de um curriculum melhor elaborado...Fica sempre uma sensação de injustiça. Não podemos avaliar as pessoas em condições, e há sempre alguém que fica para trás. Eu e a Leen lá vamos correndo nomes, e "viajando" pelos países. Portugal, Inglaterra, Escócia, Itália, Zaire, Chile, Brasil... Toda a gente procura trabalho em todo o lado. É talvez a globalização, o desejo de viajar. Talvez também a falta de trabalho... O certo é que apesar da procura no fim o número de candidatos é sempre muito restrito e com tendência a esvaziar-se depressa.

Continuo sem saber se sou louco, ou se são os outros que aparentemente têm bom senso a mais. A verdade é que a determinada altura toda a gente desiste. Ou porque o salário é baixo, ou porque é muito longe... eu sei lá...

Para já temos uma escocesa que está interessada e já aceitou a nossa proposta. Parece que finalmente, ao fim de 6 meses, conseguimos trazer para cá alguém... Só espero é que não desista pelo meio.
Entretanto continua uma vaga por preencher... Arquitectos precisam-se!!!!!!

E Sol... Sol...

É que uma semana sem praia pode-se tornar dramática :(

tou farto da chuva...

sol...
please...

sol...

sexta-feira, setembro 23, 2005

Da música e da minha vinda

Para todos os que me conhecem e que sabem porque vim. Para os que mesmo conhecendo se surpreendem ainda..
Para uma Inês, que não conheço mas que me pergunta o que faço neste canto do mundo.

"Tens que comprar um pan!" Disse-me o Bernard. Acho que não o vou fazer.
A música é qualquer coisa de muito vital em mim. Mas aprendi que aprecio apenas aquela que tenha um pouco de distorção. Não me refiro às guitarras eléctricas, ao rock, etc... Falo daquele sabor doce que a música ganha, o "sal" próprio de quando os instrumentos, a voz, atigem o limite, o sublime.
Não gosto de vozes melodiosas, de instrumentos ultra-afinados e puros. Gosto do som "sujo", natural em algo que por ser humano também tem os seus defeitos.
O pan é demasiado doce para os meus ouvidos. Revela-se sim quando tocado em conjunto com outros tantos, cada um com a sua afinação, ligeiramente diferente do anterior, como num coro em que cada um conta a mesma estória, mas através de uma vivência muito própria.
Talvez por isso goste tanto de instrumentos de cordas. Gosto de sons cheios e profundos. Gosto dos graves, mais que os agudos.
Escolho um violoncelo, mais que um violino.
Na vida não gosto do previsível. Gosto da surpresa, da diferença. Sem procurar o radical, gosto de um certo risco, de aproximar um pouco do limite. Aprecio muito a capacidade de avançar, de ir sempre um pouco mais além do que o esperado.
Aborrece-me a monotonia, repetitiva e igual de uma vida sem mistério, sem gosto.

Sou uma pessoa sossegada. Sou tímido, calado. De vez em quando surpreendo, e divirto-me dentro de mim com o desassossego que provoco em alguém que espera de mim um exemplo de acerto...
A minha vinda para Trinidad é talvez um destes casos. Tantos e nenhum em particular os motivos que aqui me trouxeram. Cansado da monotonia e da falta de perspectivas é certo. Mas também em busca de uma parte de mim que se tem mantido presa. Para crescer, para aprender.

Lembro-me do teu e-mail Anta. Bendito o terrível dia em que te pedi para me mandares a correspondência que tinhas com a Leen. Lembro-me como não dormi, como me silenciei por um dia. Não foi mais tempo porque a decisão tinha de ser tão rápida.
Se não mo tivesses mostrado...
Sem dúvida seria tudo tão diferente, mas cometi o "erro" de a ler :) ... e perdi então o descanso. Não soube esquecer e rir. Não... tinha uma oportunidade diferente de tudo à minha frente e só pensava no perigo de dizer não, de viver uma vida inteira sem saber o que poderia ter tido.

Vim então. Para fazer arquitectura, mas mais do que isso, para descobrir um novo país que sabia ser pobre e diferente de tudo na Europa. Vim com a perspectiva de poder fazer algo diferente e quem sabe até "significativo". Um dos projectos, várias escolas para deficientes chamou-me muito à atenção, mas aparentemente o ministério não parece muito interessado em fazer avançar o processo... Como aliás começa a ser costume com muita coisa por aqui dependente do governo...

Pelo meio, tem sido uma aventura óptima onde tenho aprendido e descoberto muito, do mundo e de mim. Sem dúvida deixei muito para trás, e as saudades são muitas... muitas mesmo... de tanta gente, de tanta memória.

mas arrependimento de ter vindo... nenhum.

A música acompanha-me sempre. Tormou-se parte da mim e segue-me ao longo de todo o dia. Muitas vezes não é música fácil de ouvir. Talvez por me marcar em determinados momentos da vida. O certo é que preciso dela, e oiço-a. Umas fazem-me sorrir muito, outras apertam-me a garganta. Aquelas que pouca reacção provocam rapidamente deixo de ouvir com frequência.

Recuerdos de Alhambra de Francisco Tárrega com aquela guitarra furiosa e doce, a "moonlight" sonata do Beethoven, o requiem do Mozart, o Adagio dos Secret Garden (banda sonora do 2046).
Mas também o Thrill is Gone do BB king, Este Seu olhar (versão da Maria João e Mário Laginha que não conheço o original), o Helo Hi no filme da Raínha Margot ou Unison da Bjork.
Ella Fitzgerald, Louis Armstrong,
Chico Buarque,
Gianluigi Trovesi,
...
E tantos outras que por não estarem escritas, estão aqui dentro.

Hoje oiço a Nina Simone.

terça-feira, setembro 20, 2005

Mayaro

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Mayaro é pobre.

Mayaro é silêncio e solidão.

Isolado de tudo, Mayaro só pode ser o fim do mundo. E no entanto é belo.

É fácil chegar a Mayaro, mas leva tempo. Pelo menos duas horas e meia de caminho para fazer cerca de 70km.

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Fica no extremo Sul-Nascente da ilha, longe de tudo, longe do próprio país. Em Mayaro só se encontra quem lá vive ou quem vai de férias. É uma relação estranha a que as pessoas têm com esta região. Mayaro é o ideal de repouso e paraíso em Trinidad. Diferente de Tobago, a ilha IN de Trinidad, Mayaro é uma zona de recolhimento. Vai para lá quem quer fugir da agitação do dia a dia, quem quer estar só e em sossego.

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Em Mayaro quem lá vive é muito pobre. Não há muitas casas, apenas barracas, construções muito precárias que afligem. As pessoas sobrevivem apenas. Fazem pequenos trabalhos, vivem em comunidades.
Não se queixam. Aprenderam a viver assim, na maioria dos casos pouco mais conhecem. Fazem um pouco de tudo, caçam, pescam, fazem música. Conhecem bem a floresta e o mar.
Aqui a violência silenciosa é muita. O alcóol e as drogas são escapes que destroem famílias inteiras. A violência doméstica é regra, os instintos de sobrevivência quase primitivos.
Recebem muito bem as pessoas de fora, mas é fácil perceber as tensões dentro da comunidade e ouvir dizer mal de alguém.

Foi lá que passámos o fim de semana, em cabanas que se alugam e que divergem em todos os aspectos da imagem corrente que temos do turismo.
A nossa casa tinha uma estrutura de madeira que se elevava a 60 cm do chão e que era feita com pequenos troncos escolhidos judiciosamente. As paredes (apenas exteriores) eram de tábuas com muitas venezianas, e o tecto em folhas de palmeira.
As condições eram as básicas, mas sabia que seria assim antes de ir.
O calor foi muito, pois Mayaro é a zona mais quente da ilha, mas a sombra e a ventilação da cabana eram suficientes para nos sentirmos bem dentro dela.
o "problema" era lidar com os nossos "vizinhos", isto é, as tarântulas, as formigas de guerra e os mosquitos.

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Pois é isso mesmo. Mosquitos já é hábito, mas aqui eram às centenas em tudo o que é sombra, sendo a única solução a rede mosquiteira (objecto obrigatório em Trinidad) e os repelentes.

Quanto às tarântulas (sim aquelas aranhas peludas do tamanho de uma mão) só nos restava ignorá-las. Vizinhos indelicados passeiam-se o dia todo no tecto sem pedir qualquer autorização. Contudo a "timidez" impede-as de se aproximarem das pessoas e em pouco tempo aprendemos a ignorá-las também (claro que convém sempre espreitar antes de pôr a mão em algum sítio mais escondido como uma tigela que não esteja à altura do nosso olhar...).

E para fazer inveja ao National Geographic, claro que tivemos uma invasão de "War Ants", aquelas formigas simpáticas que vemos nos documentários sobre África que se espalham por todo o lado e limpam tudo!
Acabámos de almoçar e vemos formigas na terra a aproximarem-se da cabana. A Leen explicou logo o que eram e descansou-nos dizendo que nunca sobem para a cabana...

mas em 10 minutos subiram...

Nunca tinha visto nada assim. Não avançam em carreiro, espalham-se antes pelas superfícies que atravessam. em menos de 15 minutos toda a casa estava pejada destes bichos de 1cm. Só tivemos tempo de meter a comida toda dentro de uma tenda de campismo, sair... e esperar que elas fossem embora.
É que mordem mesmo com força e fica a doer durante horas.
Correram o chão todo, as paredes, os tectos. Duvido que algum insecto tenha sobrevivido. Vi-as apanhar e matar uma barata em menos de 5 segundos... Nunca pensei que uma barata pudesse correr tão depressa, tal era o susto :)

Em menos de uma hora viram a casa toda e foram embora...

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Aproveitámos para ir à praia. Aqui o mar é mais bravo que na costa alentejana, mas a água mais quente que o ar. Tomar banho, só com água pela cintura, pois é vulgar morrer gente arrastada pelas correntes.
A praia é muito bonita. Tem uma extensão de 16kms e estava completamente vazia. Atrás fica a barreira impenetrável de palmeiras, no horizonte as estações de extracção de petróleo. Antes de regressarmos apanhámos Chip Chips, a versão trini de conquilhas que fizemos no dia a seguir ao almoço :)

A noite passámo-la em frente a uma fogueira a assar entrecosto e frango. Um amigo já conhecido da Leen e do Jannes, o Noel (chamado assim por ter nascido a 25 de Dezembro) apareceu com o seu "quatro" (uma pequena guitarra de quatro cordas) e uma harmónica. Somem o Rum, as cervejas e o vinho e deixo o resto à vossa imaginação :)

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Regressámos no dia a seguir, ao anoitecer. A noite era de lua cheia e as pessoas encontravam-se todas na estrada a apanhar caranguejos. Estes são aos milhares e só não os agarra quem não quiser. Conduzir durante este período é uma prova de perícia. Não só há que evitar os caranguejos, como as pessoas de lanternas e sacos na mão (às centenas) e os carros que travam sem qualquer sinal, apenas porque um destes crustáceos se encontra mesmo à mão.

domingo, setembro 11, 2005

Dia da Independência

Bem, este estava semi atrasado, sobretudo depois do que presenciei e escrevi atrás...
De qualquer modo coloquei fotografias novas no link das fotos, e portanto a explicação.
Na quarta-feira de 31 (bem sei, já distante do calendário, que é o que dá vir pouco ao Blog... sorry) celebrou-se o Dia da Independência.
Claro que foi feriado, mais um para acumular aos anteriores e aumentar a minha sensação de semi-férias (neste momento já com 7 meses).

O dia marca a o momento em que Trinidad se torna independente de Inglaterra em 1962. É celebrado com muitas paradas e fogo de artifício à noite, mas começando pelo princípio.

Tudo começa de madrugada neste país (ainda me lembro de um certo vizinho a cortar relva às 5h00 da manhã com um "Weedy Wacka", ou corta-relvas daqueles que funcionam a gasolina). Claro que as paradas seguem um caminho idêntico, pois o facto de ser feriado não é motivo suficiente para manter alguém na cama.

Assim, bem cedo, "tudo o que marche"( como diz o Bernard) inicia a parada, a qual vai deslizando pelas principais ruas da cidade até chegar junto aos quartéis do exército onde termina.
A rua onde moro faz parte do percurso, e a proximidade dos quartéis faz com que só passem por minha casa às 11h00. Não que isso me tenha dado mais algum tempo de sono, pois às 8h00 já estava nos Invaders, que se preparavam para receber o "cortejo", e sobretudo o público que o segue, com muita comida, bebidas, e claro, música.
Como para músico residente ainda deixo um bocado a desejar, acabei por ser o "fotógrafo do momento" enquanto tocavam.
À passagem da parada a música parou.

O público está parado nos passeios, estreitos, talvez com 1.5m Aguardam as marchas, mas para além de observarem não comentam muito. Ainda pensei que batessem palmas, ou qualquer coisa parecida, mas tirando as que são deixadas a todos os elementos dissonantes (como a bicicleta com bandeiras) pouco acontece. É que apesar de toda a aparente "fogosidade" e do espírito das caraíbas, nunca conheci um povo tão recatado no expressar de emoções em público (Excepção para o Carnaval, onde vale tudo). Em trinidad não se dança, não se canta, não se festeja, a não ser que se vá de facto para a festa, ou para o lime... mas obviamente a parada é assunto de estado...

A primeira personagem a passar remete-me imediatamente para um 4 de Julho americano tal como o imagino, pois nunca assisti a nenhum. É um porta-estandartes, vestido com as cores nacionais e carregando a bandeira. Vem de chapéu na cabeça, óculos escuros e um aceno efusivo à multidão.

Depois seguem os vários grupos; polícias, bombeiros, exército, cruz vermelha, escolas, hospitais, etc...
Os militares aparecem armados (e sempre com a mão no gatilho, talvez para impressionar...), divididos numa secção de Homens e uma de Mulheres. Depois passam as bandas do exército, da polícia, dos bombeiros, etc... Todas elas tocam as músicas do Carnaval, os êxitos que ficaram de 2005 e que ainda hoje tocam consecutivamente nas rádios enquanto se aguarda pelas sons de 2006 e que começam agora a ser apresentados (Pois é jáaí vem a febre do Carnaval)

Os bombeiros espalham água nas ruas com os camiões cisterna topo de gama, e a polícia traz os carros patrulha com as sirenes no máximo, decididos a estoirar os nossos tímpanos.
Nos céus são os helicópteros que se mantém parados no ar, depois de ter passado a força aérea (que eu me recorde uma avioneta, um avião um pouco mais moderno mas também a hélices, e um jacto dos anos 60 ou coisa parecida)

Confesso que não gosto muito de paradas, mas tinha que assistir à do dia da Independência, e a verdade é que acabou por valer a pena, nem que tenha sido pelos uniformes.
Lembrando um pouco as roupas coloniais, ou talvez as das Grandes Guerras, a parada leva-nos numa viagem ao passado. Os guardas das prisões trazem peles de tigre às costas, lembrando o homem do tambor que marca o ritmo do remo nas galeras romanas.
As senhoras da cruz vermelha vêm de cinzento e avental impecavelmente branco, com uma grande cruz no peito. Marcham muito sérias apesar da idade e da óbvia falta de jeito, num movimento quase caricato.
O exército sempre aprumado é quem tem a maior presença.

Depois veio novamente a música. Retomou-se o concerto interrompido no panyard e seguiu-se o pequeno-almoço que pela hora já ganhava contornos de almoço a sério.

Depois foi o sossego absoluto o dia todo até ao anoitecer. Havia fogo de artifício no Savannah Park, acontecimento tão raro que acaba por mover toda a cidade (2 vezes por ano, a segunda no ano novo).
Gosto sempre de fogo de artifício. Este não foi diferente de muitos dos que tenho visto, mas é sempre um prazer ver a profusão de cores e formas nos céus negros. Durou perto de 15 minutos, enchendo o ar de luz, num momento que para mim é sempre de sossego.

Mas assim que estoirou o último foguete comecei a ouvir os motores dos carros. É incríviel como as pessoas já se encontram de chave na mão. Em menos de 20 minutos não restava ninguém no parque que "só" é a maior rotunda do mundo (4km de perímetro).

Eram 21h00 e o dia tinha acabado. Às 22h00 já todos dormiam em Trinidad, e eu que não me consigo habituar a este ritmo mantive-me acordado em silêncio, "noctívago" como sempre até às 24h00... :)

terça-feira, setembro 06, 2005

...

Acabei de chegar a casa. Vinha com vontade de escrever qualquer coisa. De brincar um pouco com a reunião com o presidente, de falar do último feriado na quarta feira passada (dia da Independência)...

Não sou capaz, depois do que acabei de ver frente à minha porta.

Estava a chegar a casa. Parei o carro e saí. Ouvi gritos de um Homem, e quando me virei já ele estava no chão. Três pessoas batiam-lhe com toda a raiva, primeiro no peito, depois na cabeça.
Pontapés, como vemos no telejornal, até o deixarem inanimado...

É hora de ponta. o trânsito está parado, mas ninguém sai do carro. As pessoas têm medo, e ninguém tem coragem para avançar.
Foram poucos segundos. Quando deixou de se mexer os outros indivíduos foram-se embora. Ficou estendido, enquanto o trânsito começava a circular. Só o segundo carro parou.

Chamei o 999 enquanto via outras pessoas fazer o mesmo, mas não fui capaz de mais.
Fugi para casa. Com medo do que acabei de ver, com um peso enorme por não ter feito nada. Não sei o que aconteceu, não sei o motivo, parecia um ajuste de contas. Injustificável seja como for.
Não sei o que poderia fazer mas não fui capaz de nada ao ver que ninguém reagia.
A violência no país tem aumentado e as pessoas sentem-se inseguras. Ninguém intervém com medo de represálias...

E entretanto um homem foi agredido, e ninguém o ajudou...

segunda-feira, setembro 05, 2005

Pronto... Ainda acabo famoso...

É desta!
Amanhã, finalmente a reunião com o Presidente da República :)
Só ainda não decidi se o trate por Max, ou por "Your Excellency"...

Espero que volte a haver bebidas servidas em copos gravados com os escudos da presidência, como da última vez em que parei na President's House para uma reunião com o "Comptroller".

Ok, deu-me para elitista... também tenho direito de vez em quando! Afinal vamos apresentar o projecto de remodelação do edifício histórico...